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Como melhorar e democratizar a educação
Como melhorar e democratizar a educação

Como melhorar e democratizar a educação | Jaime Pinsky

Ao Brasil não faltam problemas. 13 milhões de desempregados. Violência endêmica em cidades de todos os tamanhos, incluindo as pequenas, antes oasis de tranquilidade. Estradas mal conservadas que fazem da viagem uma aventura arriscada e encarecem os produtos agrícolas e industriais. Estamos atrasados em ciência e tecnologia e, se não acordarmos, corremos o risco de perder definitivamente o bonde da história. Temos que resolver adequadamente a equação com duas varáveis da expansão agrícola versus preservação do meio ambiente. Precisamos implementar uma política internacional que não abandone nossos vizinhos, mas que não deixe de lado os grandes parceiros comerciais e tecnológicos como a China, a União Europeia e os Estados Unidos. O país precisa definir uma política habitacional justa e viável, tomar posição com relação à mobilidade urbana, permitir que cidadãos usufruam as ruas e calçadas de suas próprias cidades. Mas, se queremos ser uma grande nação, que não abandona seus cidadãos, mas se preocupa em integrá-los, precisamos de uma vez por todas estruturar um ensino público universal de qualidade desde a primeira infância até o final do Ensino médio.

Nenhum país se tornou uma grande nação sem um bom sistema de ensino. E, não custa lembrar, já tivemos ensino público de qualidade. As gerações mais velhas se sabem que ter um filho entrando em um bom colégio estadual era não apenas um sonho de consumo, mas motivo de orgulho para qualquer família. O problema é que à medida que o ensino foi se tornando mais universal, atingindo faixas mais humildes na escala social, mais ele foi perdendo qualidade. É claro que temos ilhas de excelência espalhadas pelo país, seja por interferência da comunidade, pela participação de prefeitos extraordinários e/ou de professores particularmente vocacionados e interessados, mas o fato é que todos sabem das dificuldades que alunos e professores enfrentam em nossas escolas públicas atualmente.

A questão é: como dar um salto de qualidade? E, sabemos todos, esse salto é fundamental porque permitiria uma igualdade de oportunidades uma vez que todas as crianças e jovens disporiam de uma aprendizagem equivalente. A escola, que hoje funciona como um elemento de separação entre ricos e pobres, como elemento de desiquilíbrio social, poderia se tornar um espaço democrático destinado a fazer com que crianças e jovens de diferentes origens sociais passassem a ter oportunidades iguais, ou pelo menos semelhantes. Hoje, soma-se à diferença de origem social a diferença de escolaridade: enquanto uns estudam em escolas bem aparelhadas, com professores motivados e bem remunerados, outros não têm nada disso. O ambiente escolar é diferente, a expectativa de futuro é diferente.

Talvez seja sonhar alto demais, mas me parece que se conseguirmos espaços democráticos no ensino, conseguiremos diminuir as diferenças sociais, motivar todos, ricos e pobres, igualmente e fazer com que o talento e o esforço falem mais alto. E o melhor, não acredito que dirigentes públicos, quaisquer que sejam suas concepções políticas, possam se opor à mudanças que democratizem nosso sistema escolar fundamental e médio, nivelando-o por cima, e não por baixo.

O único detalhe seria definir um projeto viável para a consecução desse objetivo. Como realizar isso?

Começamos recordando alguns princípios básicos: 1) Com um bom livro, mas um mau professor fica muito difícil o aluno do ensino fundamental ou médio aprender. 2) Um bom professor, mesmo com um livro didático ruim pode ter muito sucesso, já que usa as próprias falhas do livro como estratégia de ensino. 3) Para que isso ocorra será preciso um professor motivado, bem formado e permanentemente atualizado.

A chave do problema está, pois, no professor. Como mantê-lo atualizado, seja com relação ao conteúdo especifico de sua área, seja com relação ao método de ensino ou com as teorias que sustentam conteúdo e método? A resposta é óbvia: oferecendo ao mestre cursos de atualização e fornecendo-lhe material de leitura de qualidade (livros de bons autores, não apostilas com frases de efeito).

Como, finalmente, oferecer cursos de qualidade a uma rede imensa de professores, composta por centenas de milhares, ou talvez milhões de profissionais? Não há resposta possível nesse quesito sem cogitar o aproveitamento de alunos e professores de mestrado e doutorado dos cursos de licenciamento das universidades federais e todas as outras direta ou indiretamente beneficiadas por verbas públicas de educação. O plano, que não cabe nestas linhas, possibilitaria uma verdadeira revolução democrática na educação brasileira.


Por Jaime Pinsky: Historiador, professor titular da Unicamp, autor ou coautor de 30 livros, diretor editorial da Editora Contexto.