Fechar

A dureza de uma pedra me fala de resistência | Rubens Marchioni

Uma dureza capaz de ferir quando atirada pela ausência de sensibilidade de quem menos esperamos esse comportamento. Mesmo sabendo que historicamente fomos projetados para resistir a esse tipo de choque e seu poder de rasgar a pele da alma.

Claro, somos resistentes. Mas ainda não nos tornamos super-homens. O poeta gaúcho Mário Quintana lembra que “O mais triste da arquitetura moderna é a resistência do seu material.” Talvez, modernamente, precisemos desenvolver, sim, um pouco mais desse atributo. As demandas que nos requisitam são muitas. Assim, elas nos convocam a estar bem para ser o porto seguro de quem precisa de nós. E então, certos de que não vamos tombar por conta de uma pequena adversidade e estamos dispensados de buscar alguma forma de proteção suplementar, teremos mais disposição para a prática da empatia. Em outras palavras, de nos ocupar do essencial.

Verdade é que, em situações adversas como aquelas em que somos vítimas da agressividade pontiaguda como uma pedra, não raro reagimos com surpresa. Mesmo quando de alguma forma esperávamos por esse acontecimento. É que por vezes somos igualmente pegos de surpresa. Afinal, ainda que nos especializemos em tramar, planejar, calcular, postular etc., sempre existirá o inesperado diante de nós. Acontece. Por vezes, reagimos de maneira impulsiva ao fato. É da nossa natureza. É por meio desse comportamento, nem sempre compreendido, que nos defendemos de eventos que ameaçam nossa integridade física e emocional. E aqui não cabe qualquer estranhamento.

Nesse sentido, temos ao menos o dever de procurar mudar o contorno desse quadro. Senão por alterar o comportamento do outro, ao menos revendo a intensidade da maneira como nos colocamos frente à atitude agressiva. Se eu sou aquilo que dizem a meu respeito, por que brigar diante da verdade que alguém expressou? Cabe a mim rever o que penso, digo e faço de inadequado e providenciar as mudanças necessárias. Se não sou, por que brigar com aquilo que não me define? De um jeito ou de outro, “Bom de briga é aquele que cai fora”, foi o que garantiu Adoniram Barbosa. Sem saber, o compositor paulista plantava, ou replantava, a semente dos movimentos contra toda forma de violência.

Quanto ao que falta para completar esse projeto, isso ainda pode ser construído. A tarefa pode se beneficiar de uma boa dose de autoconhecimento e determinação de mudar. Afinal, não somos uma obra acabada, perfeita. Como se sabe, quem se torna consciente de si mesmo sempre dispõe de melhor condição de prever e controlar o próprio comportamento. A maior parte dos recursos para essa empreitada está ao nosso alcance.

Portanto, a gente precisa se lançar. Deixando a poeira e mirando as estrelas para que elas nos conduzam até a Terra que há de vir. E nessa Terra as pedras serão uma ausência, porque a presença forte será da brisa que nos acaricia e apaga traços de qualquer ferimento, intencional ou não.

Essa é a nossa utopia. Esse é o sonho que nos leva para frente. Você vem?


Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto.  https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]