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O Brasil na Segunda Guerra Mundial

O livro A Nossa Segunda Guerra Mundial, do jornalista Ricardo Bonalume Neto, ganhou uma nova edição em 2021. A obra é considerada a melhor narrativa sobre a participação do Brasil no conflito entre Aliados e Eixo. Não é um simples balanço de armas envolvidas, nem uma obra destinada a mostrar a falta de experiência de nossos soldados (isso é óbvio), ou ainda um diário expandido. Não apela para o sentimentalismo, mas fornece elementos para chegarmos sozinhos a nos sentir ao lado de nossos pracinhas, tanto nos momentos de coragem, quanto nos de medo.

Nesta nova edição, acrescida de belo posfácio do jornalista Leão Serva, a Contexto realizou um importante trabalho de conferência de informações, assim como de seleção de imagens. No texto abaixo, extraído da introdução do livro, é possível conhecer mais sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

É difícil permanecer neutro quando acontece uma guerra mundial. Se o país não vai à guerra, a guerra pode vir a ele. Países fracos militarmente têm ainda menos opção. Foi o caso do Brasil.

O Brasil na Segunda Guerra Mundial

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O Brasil não tinha Forças Armadas poderosas que pudessem auxiliar decisivamente seja o Eixo, seja os Aliados. Havia duas coisas que poderiam interessar a um beligerante: matérias-primas, como a borracha e o ferro, produtos agrícolas, como o café e o açúcar, e uma posição geográfica estratégica. A costa do Nordeste é, no continente americano, o ponto mais perto da África. Forças baseadas na região podem patrulhar com mais facilidade essa “cintura fina” do Atlântico. O Nordeste também é um trampolim para a África, e viria a ser um dos pontos vitais da rede mundial de transporte aéreo dos Aliados.

Nos primeiros anos da guerra, o Eixo Berlim-Roma-Tóquio estava ganhando. Depois da conquista da Polônia em 1939, houve a espetacular derrota francesa em 1940, a tomada de Holanda, Bélgica, Noruega, Dinamarca, Grécia, Iugoslávia etc. A Grã-Bretanha permaneceu um tempo sozinha, lutando para sobreviver. Apesar de terem impedido uma invasão alemã em 1940, ao derrotarem a Força Aérea alemã, a Luftwaffe, os britânicos corriam risco sério de serem estrangulados pelo bloqueio submarino de suas ilhas. A ameaça submarina, confessou depois o primeiro-ministro Winston Churchill, foi sua maior preocupação durante a guerra. Em 1941, entraram na guerra os dois países que iriam definir seu resultado: a União Soviética, atacada pelos alemães em junho, e os Estados Unidos, atacados pelos japoneses em dezembro.

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Esse sucesso dos países autoritários tendia a dar força ao grupo de simpatizantes do Eixo no governo brasileiro, como o chefe da polícia, Filinto Müller, ou os generais Pedro Aurélio de Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, em detrimento dos pró-americanos, como o chanceler Oswaldo Aranha. O próprio Vargas deu a entender que não ficaria chateado com uma vitória alemã. Um discurso do presidente-ditador ficou famoso e causou polêmica. Em 11 de junho de 1940, discursando a bordo do couraçado Minas Geraes por ocasião do aniversário da Batalha do Riachuelo, ele criticou os “liberalismos imprevidentes” das democracias ocidentais. Oswaldo Aranha teve de pôr panos quentes na crise que poderia ter surgido com os EUA.

Vargas tentou usar seus dotes políticos indiscutíveis para tentar concessões dos dois lados, manobrando habilmente até onde foi possível. A entrada dos EUA na guerra pôs fim a esses malabarismos, cujo ponto máximo foi conseguir apoio americano para a construção da indústria siderúrgica em Volta Redonda.

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