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Na vida, tudo é processo | Rubens Marchioni

QUANDO ADOLESCENTE, EU detestava estudar. Nem sei quantas vezes fui reprovado. E desconheço a causa da minha rejeição. Mas ela estava lá, quase petrificada.

Durante todo o tempo, fui muito cobrado, pressionado. Mas nada disso adiantou. Pelo contrário. O peso da lei não despertava em mim o amor por nada que lembrasse atividades escolares. Ninguém se apaixona nessas condições. Não é possível atropelar o ritmo da natureza. Ela tem de seguir o seu curso com liberdade.

Essa história se prolongou até o dia em que, deixado livre nas minhas escolhas, e sem qualquer forma de amarra, descobri o encanto pelo estudo e pela redação. Foi a grande virada, quando fiz um pacto vital com a palavra escrita e falada, mais ou menos nos moldes do que teria feito Pablo Picasso: “Há muito tempo fiz um pacto com o destino: tornei-me o meu próprio destino”. Por conta disso, aos 14 anos ganhei um prêmio literário. Minha imaginação voou mais alto nas asas de um trabalho escolar sobre o Dia da Ave. Primeiro lugar, com muita honra. Eu havia escolhido aquela classificação. E ela seria minha. Aos 15, estreia profética como locutor, por acaso lendo nada menos que um anúncio que vendia a assinatura do Estadão.

Daí em diante não parei mais. Depois de estudar Filosofia e Teologia, e sem fazer cursinho, entrei no curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Metodista de São Paulo. Muito bem posicionada no ranking, à época ela era uma das três mais importantes escolas do ramo, ao lado da USP e da ESPM. Isso sem contar que o curso era tão procurado quanto o de Medicina. Para uma grande concorrência, uma vontade de aço. Eu estava lá.

Logo em seguida, fiz Especialização em Propaganda, também na ESPM. O último trabalho se transformou no meu primeiro artigo publicado no mesmo respeitável jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão. Deixado livre, o processo estava acontecendo naturalmente. E isso incluía a publicação de artigo na revista Mercado Global, da Rede Globo. Antes de frequentar essas páginas, o texto foi um trabalho acadêmico, feito para o curso de mestrado na mesma Universidade Metodista. Para escrevê-lo, bastaria analisar uma dezena de anúncios publicitários, mas preferi estudar 89 peças. A consistência do conteúdo aumentou a credibilidade do texto.

Ainda no curso de graduação, nunca me contentei com a ideia de manter o eterno perfil de “estudante”. Assim, diante da tarefa de apresentar um trabalho corriqueiro, preparava uma aula e, uma vez diante da classe, assumia o papel de professor. O que me abriu as portas, assim que me formei, para ensinar Criação e Redação Publicitária na PUC de Campinas, onde também dei assessoria na Agência Experimental. E isso era só o começo. Em seguida, vivi a experiência de dar aulas em escolas como Senac e Faap – nesta, recebi o título de “Professor do Ano”, no curso de pós-graduação.

Pouco tempo depois, fruto da minha experiência, me tornei escritor. Primeiro, o livro Criatividade e redação. O que é, como se faz. Em seguida, vieram títulos como A conquista. Um desafio para você treinar a criatividade enquanto amplia os conhecimentos, e Escrita criativa. Da ideia ao texto. Sem contar o romance Câncer de mama. Vitória de mãos e mentes, escrito sob encomenda.

Publicitário, fui redator e diretor de criação em agências de propaganda, onde atuei também como consultor interno. Uma peça publicitária criada para o Banco Sudameris Brasil foi classificada pela revista Nova (Editora Abril) como o melhor anúncio dirigido ao público feminino daquela edição. O trabalho como colunista e blogueiro, com a publicação de mais de 300 artigos, foi uma extensão de todo esse processo. E tudo isso porque estava livre de qualquer pressão.

Hoje sou palestrante, jornalista e escritor – ainda não fiz tudo, porque o que parece ser o final é sempre um novo ponto de partida. Com um detalhe: vivo feliz com as minhas escolhas. Sempre com a certeza de que meu processo de desenvolvimento pessoal e profissional aconteceu como num parto: na hora certa, o rompimento da bolsa me avisou que havia chegado o momento de iniciar a caminhada em busca do meu destino maior. E então ouvi essa voz que, para os meus ouvidos, tem jeito de música e me conduz para experiências que me impedem de pensar no dia de encerrar a carreira. Sempre estudando, escrevendo e ensinando. Com muito prazer.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao