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O que você precisa saber sobre as Guerras Napoleônicas

Em apenas 12 anos, o general-imperador francês quase conquistou todo o continente europeu

Em 1792, com o fim da monarquia e o absolutismo, a França passou a sonhar com a conquista da soberania europeia. Para isso, Napoleão Bonaparte, líder político e militar que se destacou durante os últimos estágios da Revolução Francesa e se tornou imperador dos franceses, tomou para si a causa de transformar o país em um grande império. Mas os países vizinhos se uniram para frear a ambição expansionista e, entre 1804 e 1815, travaram diversas guerras com os franceses, nas chamadas Guerras Napoleônicas. Entenda:

Origem
As Guerras Napoleônicas foram resultado direto das Guerras Revolucionárias Francesas (1792 a 1802), desencadeadas pelo choque entre os novos ideais revolucionários e a defesa do sistema monárquico nos países europeus, representado principalmente pelo Sacro Império Romano. Adiantando-se a prováveis intervenções externas de seus vizinhos absolutistas, a França tomou a iniciativa de conquistar territórios.

As Guerras Revolucionárias Francesas foram divididas em dois períodos: as guerras contra a Primeira e a Segunda Coalizões. A Primeira Coalizão foi composta pelo Sacro Império Romano (dinastia Habsburgo na Áustria e Prússia), pela Grã-Bretanha, Espanha, Holanda e Portugal e alguns outros reinos menores.

A Segunda Coalizão foi formada pelo Sacro Império Romano (Áustria), Grã-Bretanha (que se tornou Reino Unido em 1801), Rússia, Portugal e Império Otomano. Nos dois confrontos, a Primeira República da França saiu vitoriosa, conquistando os territórios a oeste do Rio Reno, a região de Piemonte, e estabelecendo repúblicas aliadas da Suíça, Itália e Lígure (no território da antiga Gênova).

Um novo império
O sucesso de Napoleão nas campanhas das Guerras Revolucionárias deu a ele força para dar um golpe militar e assumir o poder em 1799, tornando a França oficialmente um império. Coube a ele encerrar os conflitos com a Segunda Coalizão com um acordo de paz com o Reino Unido, o Tratado de Amiens, em março de 1802. Mas as tensões originadas das Guerras Revolucionárias ainda estavam latentes em todo o continente.

A paz durou pouco
O início oficial das Guerras Napoleônicas foi com o rompimento do tratado por parte do Reino Unido em 1803 porque, entre outros motivos, Napoleão se recusou a permitir que os ingleses participassem de assuntos diplomáticos e comerciais com a Europa continental. O conflito começou não nos campos de batalha, mas com guerras comerciais: com a força da marinha, a Inglaterra fez um bloqueio naval à França. Em resposta, os franceses impuseram um embargo econômico em parceria com os países aliados continentais (Dinamarca-Noruega, Prússia, Suécia e Rússia, que formaram a Segunda Liga da Neutralidade Armada).

Coalizões
Os 12 anos de Guerras Napoleônicas foram divididos de acordo com as cinco coalizões que enfrentaram o império Francês, todas elas lideradas pelo Reino Unido e compostas, cada qual em seu tempo, por países como Áustria, Rússia, Prússia, Espanha, Portugal, Suécia, Império Otomano, Pérsia, Hungria, Países Baixos e reinos onde hoje estão Alemanha e Itália. A primeira grande vitória de Napoleão foi contra a Terceira Coalizão na Batalha de Austerlitz (na atual República Tcheca). No combate, o imperador mostrou sua força ao derrotar um exército maior formado por Áustria e Rússia, expulsando os russos para o leste e dissolvendo o Sacro Império Romano.

Napoleão venceu também a terceira, a quarta e a quinta coalizão. Perdeu para a sexta ao sair enfraquecido de uma tentativa fracassada de invadir a Rússia em 1812. Após ser exilado na ilha de Elba, retornou à França e fez uma última tentativa de retomar a glória. Porém, sofreu sua derrota final na famosa Batalha de Waterloo, na Bélgica. Superado pelos exércitos inglês e prussiano, reza a lenda que ele terminou a batalha caído do cavalo. Posteriormente, retirou-se de volta à França, onde foi preso pelo Reino Unido e exilado na ilha de Santa Helena até sua morte em 1821.

Consequências
As Guerras Napoleônicas mudaram as relações geopolíticas da Europa. Na França, a dinastia Bourbon voltou ao poder numa monarquia constitucional. A vitória dos ingleses consolidou o predomínio da Marinha Real, abrindo caminho para que o Reino Unido se tornasse o império mais poderoso do mundo. Aliás, muitas monarquias se viram na obrigação de assumir alguns pressupostos republicanos para se manterem vivas. Com a desintegração do Sacro Império Romano, despertou a noção de nacionalismo e liberalismo em outros países continentais, criando as raízes para os processos de unificação da Alemanha e da Itália, por exemplo. Na América do Sul, a independência da Argentina (1811), uma reação a uma invasão inglesa (na tentativa de enfraquecer a Espanha, então aliada da França), desencadeou nos anos seguintes movimentos semelhantes nas demais colônias ibéricas.

O conflito europeu também foi responsável por consequências importantes para a história do Brasil: em 1808, a família real portuguesa desembarcou no Rio de Janeiro ao fugir das tropas francesas que estavam prestes a tomar a cidade de Lisboa. Com a presença do rei D. João VI em nossas terras, o Brasil deixou de ser uma mera colônia e foi alçado à condição de “Reino Unido” a Portugal. Os ventos anti-absolutistas da Revolução Francesa também foram responsáveis pelo fortalecimento dos movimentos pró-independência: D. Pedro I, filho do rei português, seria o responsável por conduzir o processo de emancipação do Brasil em 1822.