Fechar

Entrevista com o Professor Ataliba T. de Castilho – Linguística no Brasil

A entrevista de hoje é com o Professor Ataliba Teixeira de Castilho, autor da Nova Gramática do Português Brasileiro. O currículo do professor Ataliba é muito vasto. Ele é um dos linguistas mais respeitados no Brasil, por ter a relevante contribuição de 22 livros publicados; 60 capítulos de livros; 60 publicações em revistas especializadas; orientação de dezenas de dissertações e teses.

As perguntas foram elaboradas por nossa equipe e por alguns linguistas integrantes de um grupo do Facebook intitulado “ABRALIN: Linguística em Foco”, com a finalidade de contribuir com os estudantes do curso de Letras e com qualquer outra pessoa que se interesse pelo assunto. Nesta entrevista, trouxemos as respostas do Professor Ataliba da maneira mais direta possível, ou seja, assim como as recebemos estão agora publicadas.

– Início da entrevista com Ataliba de Castilho –

MUNDO ESCRITO: O senhor vê a linguística brasileira como um pouco acanhada no que diz respeito a fazer teorias?

ATALIBA DE CASTILHO: Sim, completamente acanhada. Ainda ficamos espelhando teorias geradas em centros europeus e americanos.

ME: Tem como desassociar teorias linguísticas das ideologias dos seus formuladores?

ATALIBA DE CASTILHO: As teorias linguísticas estão associadas a direções da Epistemologia, não a ideologias.

ME: O senhor acredita que a Linguística deveria ser um assunto mais debatido fora do meio acadêmico? Se sim, de quais maneiras o senhor acredita que a Linguística pode ultrapassar os âmbitos acadêmicos e alcançar um debate popular?

ATALIBA DE CASTILHO: A Linguística descreve e historia as línguas naturais. Apenas suas aplicações teriam condições de debate fora do âmbito acadêmico. Não sei se ciências podem beneficiar-se de um debate popular, pois, como ciência, tem suas exigências quanto ao interlocutor. Agora, nas questões de ensino das línguas, aí sim, a Linguística poderia promover esse debate, o que, na verdade, já vem fazendo.

ME: Nas faculdades de Letras, as pesquisas devem estar mais próximas das bibliotecas (físicas/virtuais) ou das ruas?

ATALIBA DE CASTILHO: Essa pergunta é meio estranha. Frequentamos as bibliotecas para conhecer o que já se estudou. Entrevistamos falantes na rua, para descrever o que ainda não se sabe.

ME: Na sua trajetória acadêmica, o senhor enfrentou resistências? Quais foram os principais desafios?

ATALIBA DE CASTILHO: Não enfrentei resistências. Os desafios vieram sempre dos objetos sob estudo.

ME: Na literatura, quais foram os escritores que melhor representaram, na língua escrita, a riqueza da língua falada brasileira?

ATALIBA DE CASTILHO: Não entendi essa pergunta. Como a língua escrita pode refletir a língua falada? São dois canais diferentes, cada um com suas características.

ME: Hoje, quais são as principais transformações que estão acontecendo no português do Brasil?

ATALIBA DE CASTILHO: Modificação do quadro dos pronomes, predominância do sujeito omitido, mudanças nas regras de concordância. Para mais dados, consultar minha Nova Gramática do Português Brasileiro.

ME: As transformações na língua portuguesa do Brasil são sempre positivas, isto é, tendem a melhorar a comunicação?

ATALIBA DE CASTILHO: Transformações não são nem positivas nem negativas. Todas as línguas faladas por sociedades dinâmicas passam por transformações – e tudo isso é muito natural e inevitável.

ME: As aulas de português em escolas e universidades podem dar conta das profundas transformações da língua portuguesa?

ATALIBA DE CASTILHO: Depende da universidade. As universidades públicas promovem mais pesquisas, que são passadas aos alunos, mesmo recrutando auxiliares entre eles. Os grandes projetos coletivos sobre o português brasileiro foram iniciativas de universidades: (1) documentação e descrição da língua falada culta (Projeto NURC): USP, UFRJ, UFRS, UFBa, UFPe); (2) gramática do português brasileiro falado: Unicamp; (3) história do português brasileiro: USP. Várias universidades federais desenvolveram, igualmente, projetos de estudo do português local e de línguas indígenas.


Fonte: Mundo Escrito