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Libras e Surdos | Lançamento

Num mundo em que tanto se fala de direitos, de respeito à diversidade, de espaço às diferenças e escuta às minorias, trazemos à cena o Surdo, o sujeito que se grafa com letra maiúscula, pois retrata a pessoa que é marcada por uma característica, e não por uma deficiência. Retrata a pessoa que não apenas compartilha uma língua e cultura conforme proposto por James Woodward em 1972, mas que se vê para além da característica biológica, independente de fazer uso da língua de sinais, identificando-se por sua diferença. Vamos dialogar sobre o Surdo, o universo que o circunda, seus direitos, sua diversidade ou multiplicidade linguística, suas características e especificidades, as interseccionalidades que o atravessam, os emblemas e os desafios que o constituem e demarcam seu lugar social.

Libras e Surdos | Lançamento
Leia um trecho

Profissionais que estão em interação com a pessoa Surda são convidados à reflexão, pois, mesmo que se fale tanto sobre a surdez para além da audição, pairam ainda conceitos capacitistas que destituem o Surdo de possibilidades e caminhos. O livro é voltado também para estudantes das áreas de saúde e educação, pois em cada capítulo há raízes que nutrem um olhar e provocam ações que compreendem a inteireza do Surdo a partir do que ele é, e não do que a comunidade majoritária deseja que seja.

(…)

Há futuro! E urge que todos arregacem as mangas! Há ainda muito a fazer. Se o ontem foi marcado por dicotomias nas ações de educação e saúde com a pessoa Surda – lutas entre normal/patológico, surdo/ouvinte, oral/gestual –, isso é ultrapassado por um sujeito que se reconhece em sua diferença, que luta por poder erguer sua “voz”, assim como o fazem os autores Surdos aqui presentes – Ohkawa, Hollosi, Nakasato, Campos, Vilhalva e Oliveira –, e que protagoniza esse espaço de partilha de saberes.

Este livro, metaforicamente, é como uma seta que parte de um ponto histórico e indica direção, atravessando temas que fazem deste um documento indispensável para quem se debruça sobre os estudos que envolvem os Surdos e a surdez, e, portanto, um documento atemporal. Retrata o momento presente a partir de um resgate histórico até apontar para um futuro em que se espera ter espaço para todos. Se “o futuro é colheita”, assim como diz Oliveira e Faria-Nascimento no seu capítulo, desejamos plantar sementes em campo fecundo, ansiando um futuro em que a diversidade exista, o respeito seja norma e a pessoa Surda usufrua do direito cidadão de ser.

E, para finalizar, retomamos aqui o primeiro parágrafo desta “Apresentação” em que inauguramos o diálogo com os leitores e começamos a falar sobre a pessoa Surda com “S” maiúsculo. Queremos explicar a escolha tomada nesta apresentação e no livro como um todo. Quando usamos “Surdo” com maiúscula, estamos nos referindo a um grupo minoritário com direito a ter uma cultura própria e a ser respeitado na sua diferença.

Entendemos que essa é uma escolha de cada pesquisador, cada estudioso da área, pois outras marcas podem ser observadas e que retratam este mesmo posicionamento. Aliás, toda a construção textual pode levar a entender a posição ideológica assumida com relação ao povo Surdo, e não necessariamente existe a obrigatoriedade de expressão dessa posição junto à comunidade através da grafia desta palavra. Essa é a marca maior desta obra: entendermos o Surdo em sua condição humana e completa. Em alguns momentos podemos encontrar também neste livro o termo Deficiente Auditivo, em razão de respeitarmos aqueles que desejam ser assim reconhecidos nesse lugar. Multiplicidade de compreensão do mundo e daqueles que o habitam – em síntese: respeito sempre.

Agradecemos à comunidade Surda que nos inspira a uma atuação profissional condizente com o respeito aos seus direitos, aos colegas profissionais que gentilmente compartilham nestas páginas suas experiências e dedicação em pesquisa, e aos que nos lerão num futuro para o qual esperamos contribuir com o objetivo de ampliar o olhar ao que é singular e único: o sujeito e seu modo de existir.

Leia o trecho completo no nosso site


Cecilia Moura é fonoaudióloga Clínica bilíngue Libras/português. Professora titular do curso de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ex-coordenadora e fundadora do Comitê de LS e Bilinguismo para Surdos do Departamento de Linguagem da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (gestão 2019-2020 e 2020-2022). Autora do livro O surdo – caminhos para uma nova identidade.

Desirée De Vit Begrow é fonoaudióloga bilíngue Libras/português. Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pós-doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora no Departamento de Fonoaudiologia da UFBA. Coordenadora do Projeto para Acolhimento, Informação e Suporte a Familiares de Crianças Surdas (PAIS/UFBA). Vice-coordenadora do Comitê de Línguas de Sinais e Bilinguismo para Surdos (CLSBS) do Departamento de Linguagem da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) (gestão 2019-2022). Atual membro de GT – Formação do Fonoaudiólogo (GT-Formação) do CLSBS-SBFa.

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