Cada pessoa deve ser tratada de acordo com seu valor individual, não importa qual seja sua afiliação racial, nacional ou religiosa. Não deve haver tirania da opinião pública que possa restringir a liberdade do pensamento individual.
As complexidades da vida moderna nos obrigam a reconhecer que as ações econômicas de cada indivíduo têm uma influência tão profunda no bem-estar de nossos concidadãos, mesmo de membros de nações estrangeiras, que não podemos nos entregar a essa robusta individualidade característica dos tempos anteriores, quando cada família era muito mais autossuficiente do que é agora. As causas dessa mudança são bem conhecidas e se devem principalmente às conquistas da ciência.
As restrições que aceitamos como consequências inevitáveis do gênio inventivo da humanidade e do tamanho de nossa população não se estendem ao domínio do pensamento. Mesmo que quiséssemos fazê-lo, não podemos manter um individualismo absoluto na vida social e econômica, mas é a meta pela qual nos esforçamos na vida intelectual e espiritual. Levamos muito tempo para libertar o pensamento das restrições do dogma imposto. Essa liberdade não foi de forma alguma alcançada completamente. Os pensamentos de muitos são inconscientemente ou conscientemente tão reprimidos, e as tentativas de repressão forçada do pensamento que contraria os princípios de crença aceitos ainda são muito frequentes. Uma maioria intolerante pode ser tão perigosa para a liberdade de pensamento quanto a mão pesada de um ditador. Por essa razão, exigimos a máxima liberdade de expressão, para que nossos jovens estejam preparados para um uso inteligente dos privilégios e deveres da cidadania.
Apesar de todos os lapsos de que possamos ter sido culpados, o ideal de nossa democracia é a liberdade de pensamento e de expressão. Isso está claramente expresso na Declaração de Independência e na Declaração de Direitos; a liberdade de expressão, de reunião, de imprensa comprova que nosso objetivo é lutar pela liberdade intelectual. A ciência certamente não pode viver em uma atmosfera de contenção. Em estados democráticos, ela conseguiu em grande parte romper as correntes do dogma, pelo menos no que diz respeito às ciências naturais. Ainda temos muito que aprender em relação à liberdade de pesquisa e expressão nas ciências sociais, mas pelo menos temos a vontade de alcançá-la. A disposição de considerar como heresia uma visão diferente da que está em voga e de incitar a perseguição apaixonada daqueles que a sustentam deve ser superada. Se quisermos combater o preconceito, os resultados de pesquisas honestas, sejam elas quais forem, devem se tornar acessíveis a todos.
Houve um tempo em que nas monarquias absolutas a ciência era livre desde que não interferisse com o governo autocrático, quando os resultados da pesquisa não chegavam às massas, mas permaneciam confinados ao pequeno grupo dedicado às atividades intelectuais.
Os estados totalitários modernos têm uma visão diferente. Eles ordenam quais devem ser os resultados da pesquisa científica e não permitem a realização de trabalhos ou a publicação de resultados que contrariem suas noções pré-concebidas. Ramos inteiros do conhecimento que lhes parecem perigosos ou irrelevantes são suprimidos. O valor da pesquisa científica não é medido pelo seu valor intrínseco, mas pela questão se o pesquisador é ou não aceito para o ditador.
Os efeitos maléficos de tal política não se limitam à ciência. A tirania se estende à vida cotidiana. Nenhuma crítica, nenhuma opinião divergente é permitida e como as punições draconianas são aplicadas aos transgressores, o povo se torna covarde; ainda mais, como a denúncia dos opositores é considerada uma virtude, todo o seu moral é prejudicado.
Os desinformados entre nós são muito propensos a ignorar os sacrifícios pelos quais os sucessos dos estados totalitários são comprados, e há o perigo de que a aparente segurança possa atrair almas fracas para procurar remédios semelhantes. A propaganda irresponsável está trabalhando para explorar tal disposição.
Por essa razão, é nosso dever estar em alerta. Consideramos a liberdade intelectual e espiritual o direito inalienável de cada indivíduo. A democracia, tal como concebida em nossa Constituição e como expressa em nossa vida cotidiana, é um tesouro que estamos determinados a guardar em todas as circunstâncias. Não alcançamos a medida mais completa de tal liberdade, mas, onde ela não é plenamente realizada, lutamos para desenvolvê-la. Nós nos consagramos à sua perfeição para combater toda forma de censura exercida pelo governo, pela Igreja, por interesses particulares, pelo controle irresponsável de indivíduos ou organismos, e todas as outras formas de supressão da liberdade de expressão. Nossa democracia nos dá o direito e nos impõe o dever de nos dedicarmos ao desenvolvimento da liberdade intelectual.
Hoje podemos expressar nossas convicções apenas em palavras, mas podem estar certos de que criaremos uma organização para fortalecer a democracia; que foram dados passos que levarão à realização desse fim.
Trecho do livro: Antropologia da Educação