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Conceitos básicos de linguística: noções gerais

Este livro é o segundo volume de nossos Conceitos básicos de linguística. O primeiro volume foi consagrado aos sistemas conceituais. Nele, apresentamos termos e definições de quatro grandes vertentes do pensamento linguístico do século XX: a linguística saussuriana, o estruturalismo norte-americano, o gerativismo e a sociolinguística. O livro foi organizado a partir de dois pressupostos epistemológicos.

Conceitos básicos de linguística: noções gerais

O primeiro – de ordem mais geral – é relativo à ideia de “conceitos básicos”, que, inclusive, está textualmente presente no título da obra. Esforçamo-nos para defender a tese segundo a qual os conceitos básicos de uma área do saber vão além do reconhecimento de sua importância “basilar”. Eles são “básicos” porque
fazem parte do repertório epistemológico fundamental para a compreensão de um determinado campo. Nesse sentido, consideramos que o conhecimento mínimo do que seja o pensamento científico em torno da linguagem humana não poderia desconhecer os “conceitos básicos” que proporcionaram o estabelecimento de métodos e objetos, nessas quatro vertentes. Quer dizer, a intenção foi apresentar as condições de possibilidade de instauração de suas epistemes.

O segundo – de ordem mais específica – é relativo à ideia de “sistemas conceituais”, explícito no subtítulo da obra. Entendemos que tanto um termo como um conceito podem ser compreendidos somente quando ligados à rede conceitual e terminológica da qual fazem parte. Dito de outro modo: consideramos que os “conceitos básicos” da linguística moderna, iniciada no século XX, fazem parte de um conjunto de ideias logicamente solidárias que precisam ser consideradas articuladamente em suas relações. O valor metodológico que têm deve ser apreendido nessas relações. A explicitação desse pressuposto epistemológico se deu no tópico Capítulos relacionados, presente no final de cada capítulo do livro.

Ambos os pressupostos continuam a nortear o que trazemos a público neste segundo volume, agora intitulado Conceitos básicos de linguística: noções gerais. Desta vez, apresentamos ao leitor uma considerável quantidade de termos e reflexões que fazem parte do capital teórico da linguística. O propósito aqui é estabelecer um patamar mínimo a partir do qual se torna viável a leitura compreensiva de textos de linguística geral.

Quisemos, por exemplo, explicitar de maneira crítica o que é possível entender por rótulos como “estruturalismo”, “funcionalismo” e “gerativismo”; destacamos reflexões em torno da “classificação das línguas”, das “funções da linguagem”, da “origem das línguas e da linguagem” etc. Tudo isso, acreditamos, capacita o leitor para uma leitura que não planifica diferenças e não ignora a complexidade do campo.

A exemplo do volume anterior, também aqui recorremos ao tópico Capítulos relacionados (cf. “Guia do usuário”, adiante). Por exemplo: em “Estruturalismo”, fazemos remissão a “Gerativismo”, “Funcionalismo” e “Linguística”. Ora, o que isso quer dizer? Que, em nossa opinião, será produtivo para o leitor se ele fizer a sua leitura ser acompanhada da leitura dos demais capítulos, porque, do conjunto, facilmente ele perceberá que podemos falar em múltiplas “linguísticas”, já que há múltiplos objetos.

Além disso, elencamos, ao final de cada capítulo e a exemplo do que fizemos no volume anterior, algumas sugestões de leitura que estão diretamente relacionadas ao conteúdo de cada capítulo. Essas sugestões são sempre de textos em língua portuguesa, em sua maioria com publicações disponíveis no Brasil. Tal seção de sugestão de bibliografia obviamente não é exaustiva e reflete, em grande medida, nossas próprias leituras. Encorajamos o leitor a seguir por essas leituras para dar continuidade a seus estudos.

Após essa primeira parte (cf. “Parte I – Noções gerais”) em que aparecem termos e noções, duas outras partes compõem o livro. A segunda – “Pequena cronologia dos estudos linguísticos (séculos XVII-XXI)” – apresenta uma linha temporal dos estudos linguísticos lato e stricto sensu. A terceira – “Breves informações sobre linguistas citados” – dá a conhecer um mínimo de informações sobre vida e obra de linguistas referidos e/ou citados. Essas duas partes dizem respeito também ao que consta do primeiro volume, quer dizer, incluímos, na cronologia e nas breves informações, dados referentes a linguistas, acontecimentos, obras etc. que comparecem em ambos os volumes de Conceitos básicos de linguística.

Sobre essas duas últimas partes, vale ainda fazer dois comentários.
A “Pequena cronologia dos estudos linguísticos (séculos XVII-XXI)” está longe de ser uma linha temporal exaustiva. Como disse Auroux (1998: 403), em sua “Cronologia da reflexão linguística” anexa ao livro A filosofia da linguagem, “não dispomos ainda de uma verdadeira visão cronológica que repertorie as descobertas, as grandes viradas científicas ou as discussões filosóficas concernentes à linguagem”. Suprir uma lacuna como essa, portanto, é tarefa cuja envergadura realmente transcende os limites de nossos propósitos. Dessa maneira, optamos por fornecer um quadro limitado da evolução bibliográfica dos estudos linguísticos – lato e stricto sensu, reiteramos –, acrescida de alguns dados biográficos. Além disso, integram a “Cronologia” datas de acontecimentos que julgamos importantes para a compreensão da evolução da linguística.

As “Breves informações sobre linguistas citados”, além de apresentarem dados biográficos e bibliográficos dos autores, trazem comentários teóricos, metodológicos e contextuais dos autores. A intenção foi, na medida do possível, aproximar o leitor da vida e obra dos linguistas, uma vez que acreditamos que o tripé vida-obra-teoria pode elucidar grandemente as questões de pesquisa, os modelos propostos, as soluções encontradas por cada um para a grande questão da linguagem humana.

Ainda, trazemos, no final do livro, uma bibliografia numericamente significativa que, esperamos, poderá guiar o leitor no aprofundamento de suas pesquisas. Nela, estão listadas tanto as obras efetivamente citadas no corpo do livro como aquelas que são indicadas como leitura complementar ao final de cada capítulo.

Por fim, gostaríamos de manifestar publicamente nossa alegria em concluir o projeto de publicação dos dois volumes de nossos Conceitos básicos de linguística, iniciado há bastante tempo. Como diz Roland Barthes em sua aula inaugural no Collège de France, a alegria é melhor do que a honra; “pois a honra pode ser imerecida, a alegria nunca o é”. Ora, a alegria em ver publicados os dois volumes dos nossos Conceitos básicos de linguística também nos enche de felicidade e esperança. Felicidade em compartilhar com nossos leitores um caminho de estudos e pesquisas; esperança em contribuir, mesmo que minimamente, com a ampliação da discussão em torno da linguagem humana entre nós, no Brasil.

Esse projeto tornou-se possível porque fomos guiados simultaneamente pelo rigor no tratamento da reflexão teórica (é o nosso apreço pela ciência), pelo respeito à diversidade da abordagem científica (é o nosso apreço pelas diferenças), pela convicção de que a linguagem humana é linda (é o nosso apreço pelo belo) e pela admiração recíproca que os autores deste livro têm entre si (é o nosso apreço pela amizade).

Este livro conclui um projeto que testemunha um périplo pessoal e profissional, guiado pela ética do saber e do saber conviver. O poeta Manuel de Barros, no Livro sobre nada, dá a exata formulação: “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos”. Que a nossa exposição sobre a ciência linguística permita ao leitor ver melhor o encanto da linguagem. É nosso desejo!


Elisa Battisti é licenciada em Letras pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutora em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Tem pós-doutorado em Fonologia pela Vrije Universiteit Amsterdam e Meertens Instituut, Holanda. É professora associada do Departamento de Linguística, Filologia e Teoria Literária do Instituto de Letras da UFRGS. Nessa instituição, ministra disciplinas de linguística na graduação e atua na linha de Fonologia & Morfologia e na linha de Sociolinguística do programa de pós-graduação em Letras. Desenvolve pesquisa principalmente sobre fonologia do português brasileiro e variação linguística como prática social. É pesquisadora do CNPq.

Gabriel Othero é professor do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Também é editor da Revista Virtual de Estudos da Linguagem (ReVEL) (juntamente com Cassiano Haag e Cândida Leite), coordenador da Coleção de Linguística da editora Vozes (juntamente com Sergio Menuzzi) e editor da editora da Abralin (juntamente com Valdir Flores). É um dos idealizadores do Observatório Sintático do Português Brasileiro. Pela Contexto, publicou os livros Teoria X-barra: descrição do português e aplicação computacional (2006) e, em coautoria com Eduardo Kenedy, Chomsky: a reinvenção da linguística (2019), Para conhecer sintaxe (2018) e Sintaxe, sintaxes: uma introdução (2015).

Valdir do Nascimento Flores é professor titular de Língua Portuguesa e Linguística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).  Realizou estudos de pós-doutorado na Université de Paris XII e na Université de Paris X. Foi professor visitante no Institut des textes et manuscrits modernes (ITEM – CNRS/ENS) na França, onde ministrou cursos sobre a recepção das ideias de Saussure e Benveniste no Brasil. É editor da editora da Abralin (juntamente com Gabriel de Ávila Othero). Os temas de suas pesquisas circunscrevem-se a dois campos: aspectos epistemológicos da linguística geral (Ferdinand de Saussure; Roman Jakobson, Émile Benveniste, entre outros) e linguística da enunciação (Émile Benveniste, Henri Meschonnic, Antoine Culioli, entre outros). É pesquisador do CNPq.

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