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A ilusão da lua | lançamento

Ainda me lembro da primeira vez que meu filho perguntou por que uma colher caía no chão. Como físico, rapidamente passaram por minha cabeça diversas maneiras de responder a essa pergunta, com níveis de complexidade diferentes. Podia usar desde uma visão aristotélica, dizendo que a colher cai porque o chão é o lugar natural dela, até uma visão einsteiniana, explicando-lhe a distorção no espaço-tempo causada pela Terra. Optei por tentar explicar a força da gravidade, o que não é tão trivial para uma criança de 3 anos quanto pode parecer.

As crianças têm muita curiosidade, excesso talvez, que infelizmente vai diminuindo com o passar dos anos. Na realidade, não é a vontade de entender o mundo que vai diminuindo, é a frustração das crianças com as respostas que vai aumentando. Mas já dizia Francis Bacon que “do assombro nasce o conhecimento”, e precisamos fazer reflorescer nas pessoas a curiosidade e a vontade de querer entender mais sobre os mistérios que nos cercam.

Não faltam mistérios e assombros quando pensamos em nosso universo e em nossa vida. Há mais Física, Química, Psicologia ou Biologia ao nosso redor do que percebemos. A ciência enxerga esses mistérios por meio de muitos pontos de vista. Digamos que cada ponto de vista tem acesso a um conjunto de lentes e lupas para analisar e entender um lado da questão. É exatamente pela percepção das conexões entre as observações feitas de vários pontos de vista que se chegará mais perto da compreensão de um fenômeno. Claro que isso demanda esforço conjunto e muito tempo. Não é à toa que ainda existem inúmeros mistérios que a ciência não foi capaz de entender, e para entendê-los, seja para satisfazer a nossa curiosidade, seja para avançar tecnologicamente, precisamos de novas gerações de insaciáveis curiosos.

Por vezes, aulas desestimulantes na escola e apostilas burocráticas acabam por aplacar o fascínio natural por desvendar esses mistérios. Os prejuízos desse desapego pela ciência são sentidos duramente nos dias de hoje e amplificados em redes sociais, nas quais pouco importa o que é conhecimento lapidado ao longo de séculos e o que é puro achismo. Infelizmente, a ignorância e a insensatez com frequência têm comandado decisões empresariais, governamentais e individuais.

Que remédio há para esses males? Entre tantas dúvidas que temos sobre a vida e o Universo, essa não é uma delas. Quanto mais as pessoas aprenderem a pensar criticamente, a questionarem as informações, menos gente propagará a desinformação. Assim, organizo este livro em torno de três pilares – a ciência que nos rodeia em pílulas de exemplos cotidianos; a maneira de fazer ciência e como é importante divulgá-la corretamente; e o perigo das pseudociências.

A ideia é discutir os processos da ciência e como podemos aproveitá-la nas tomadas de decisões. Ficarei satisfeito se este livro provocar novos questionamentos e muitas conversas. Espero que você, leitor curioso, seja arrebatado nesta jornada e nunca mais enxergue o mundo, a vida e seus detalhes cotidianos do mesmo jeito.


Marcelo Knobel é reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 2017 e professor do Instituto de Física Gleb Wataghin desde 1995. É professor titular do Departamento de Física da Matéria Condensada, atuando na investigação experimental de materiais magnéticos nanoestruturados. Foi pró-reitor de graduação da Unicamp de 2009 a 2013, sendo responsável, entre outras ações, pela implantação do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), que alia inclusão social com formação geral. Dedica-se também à divulgação científica, colaborando com as atividades do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), desde 2000. Publicou mais de 260 artigos em revistas internacionais e 15 capítulos de livros, tendo sido citado mais de 10 mil vezes na literatura científica internacional. Também publicou diversos artigos de divulgação científica e de opinião em jornais e revistas.