José de Souza Martins, um dos mais importantes cientistas sociais do Brasil, será um dos debatedores do evento 25 anos – O Contexto Histórico, que a Editora Contexto promoverá no próximo dia 4 de junho. Professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), com passagens pelas universidades de Lisboa (Portugal), da Flórida (EUA) e de Cambridge (Inglaterra), o sociólogo é mestre e doutor em Sociologia pela USP e autor de diversos livros premiados. José de Souza Martins, que publicou pela Contexto “A sociabilidade do homem simples“, “Sociologia da fotografia e da imagem“, “Fronteira“, “O cativeiro da terra” e “A política do Brasil lúmpen e místico“, conversou com a gente:
1) Com o início do processo democrático no Brasil no final dos anos 80, a participação da sociedade civil ganhava força. Quais foram as maiores mudanças nesse cenário nos últimos 25 anos?
Uma mudança importante, mas problemática, foi a do protagonismo político ter se deslocado dos partidos para os movimentos sociais e dos movimentos sociais para as organizações não governativas. A mediação corporativa no processo político brasileiro anula a função histórica dos partidos políticos, o que é mais grave em face de desfiguração dos partidos como meios de representação política. Não dá para ser otimista em face desse cenário.
2) Nos últimos dez anos o governo foi eleito com o apelo popular, com uma política voltada para as classes menos favorecidas. Isso é um reflexo de que a sociedade civil tenha se tornado mais politizada?
A mudança configurou o que se pode chamar de neopopulismo brasileiro, eivado de influências religiosas e de valores da economia moral. Na verdade, a sociedade tornou-se menos politizada, ainda que mais partidarizada.
3) Como sociólogo e autor de livros que estudam o tema, como as transformações na história recente do país afetaram seu trabalho?
Minha obra é uma obra aberta sobre as incertezas dos momentos históricos, numa espécie de pêndulo entre o histórico e o conjuntural. Em meus livros sobre o atual adoto o método de reconhecer as incertezas como componentes do processo social e histórico. As mudanças sociais na história recente de certo modo já estavam consideradas, como possibilidades, nas análises que vinha fazendo. Em boa parte, confirmaram minha linha de interpretação, que já nos anos 1970 me permitia ver tendências conservadoras no comportamento popular, nos movimentos populares e no andamento do processo político.