Com os últimos acontecimentos no Rio de Janeiro – carros e ônibus estão sendo incendiados, a população expulsa das ruas e o medo tomando conta da capital fluminense – surge a pergunta: o exército deve entrar na luta contra o tráfico? Para o major Alessandro Visacro, as Forças Armadas têm como combater esse tipo de conflito e ele lembra que várias guerras irregulares pelo mundo foram combatidas e exterminadas com a presença militar.
**
As guerras já não são mais as mesmas. Em vez da confrontação militar formal, o mundo vem assistindo a uma série de conflitos como terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência e confrontos assimétricos em geral. O oficial das Forças Especiais do Exército Brasileiro Alessandro Visacro, profundo estudioso do assunto, retrata essa forma de conflito no livro Guerra irregular – Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história, lançado pela Editora Contexto. O autor traça um amplo panorama dos movimentos que alimentam essas guerras: embasamento político, estratégia, táticas e resultados obtidos.
O livro mostra quais os grupos que obtiveram sucesso e como conseguiram atingir seu objetivo. Assim como os métodos utilizados pelos Estados que derrotaram ou estão estão derrotando esses movimentos. Guerra irregular trata da Irlanda (IRA) e da Espanha (ETA), de Cuba e da China, da Argélia e do Afeganistão, de israelenses e palestinos, da Colômbia e do Brasil (narcoguerrilha e narcoterrorismo).
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, ocorreram mais de oitenta guerras de natureza assimétrica. Noventa e seis por cento dos conflitos transcorridos durante a década de 1990 foram assimétricos. Um breve olhar sobre as áreas de tensão e as áreas conflagradas em torno do planeta reforça a ideia de supremacia das práticas qualificadas como “irregulares”, pois grupos insurgentes, organizações terroristas e facções armadas romperam o pretenso monopólio estatal sobre a guerra, protagonizando os principais conflitos da atualidade.
A onipresença da mídia, o assédio de organizações humanitárias e a influência da opinião pública sobre a tomada de decisões políticas e militares têm caracterizado um cenário em que exércitos nacionais permanentes, com orçamentos dispendiosos e moderna tecnologia, parecem ineficazes e antiquados. Rebeldes, guerrilheiros e terroristas subsistem a despeito de todos os esforços para erradicá-los.
Nas sombrias selvas da América do Sul, nas magníficas montanhas da Ásia Central e, sobretudo, nos centros urbanos superpovoados dos países pobres ou em desenvolvimento, o Estado vem se defrontando com ameaças difusas e complexas, as quais não consegue extinguir. A guerra no século XXI tem assumido, de fato, a feição do combate irregular. As práticas de terrorismo, subversão e guerrilha difundiram-se de tal forma que afetaram, direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, a quase totalidade das nações do globo, incluindo o Brasil.
Com grande frequência, a guerra irregular se desenvolve sem que seja declarada, reconhecida ou sequer percebida. Por vezes, é oculta. Mas é invariavelmente incompreendida pelo Estado e por diferentes segmentos da sociedade civil. Entender melhor o combate irregular é um pré-requisito para que a sociedade se torne, de fato, menos vulnerável a ele.
Obra imperdível para quem quer entender o modo como a guerra é feita atualmente. Guerra irregular é essencial para historiadores, sociólogos, militares, políticos e todos que se interessam em entender a forma como a guerra é travada atualmente.