Em novembro, o blog “Longevidade: modo de usar”, que mantenho no portal de notícias G1, completará quatro anos. Na coluna de estreia, eu dava a minha idade (na época, 58 anos) e comentava que as pessoas consideram um elogio quando ouvem de volta: “puxa, nem parece!”. Bajuladores à parte, o que chama a atenção no cumprimento é a negação que ele embute: por que não podemos espelhar a idade que temos? Porque envelhecer continua sendo um tabu. Por que parar de celebrar a capacidade de ir em frente e se adaptar e ficar tentando ser uma versão mais jovem de si mesmo? Por que não festejar o bônus de 30 anos de expectativa de vida que a humanidade ganhou ao longo do século XX?
A geração que está na casa dos 60, 70 anos – e até mais! – se sente cheia de vitalidade e energia. É uma geração que está envelhecendo mais e melhor que seus pais e avós. São adultos ativos no mercado de trabalho e que pretendem continuar atuantes profissionalmente. São consumidores que continuarão movimentando os negócios e demandando serviços, provavelmente com mais dinheiro no bolso e na poupança do que seus filhos e netos, porque sabemos que os jovens enfrentam um mundo de emprego escasso. A visão meramente cronológica, isto é, da data em que nascemos, vai sendo substituída pela biológica: se estamos bem fisicamente e afiados intelectualmente, ainda há muita lenha para queimar nos próximos anos.
Quatro anos depois, estou lançando um livro, Longevidade no cotidiano: a arte de envelhecer bem, pela Editora Contexto, que se propõe a ser um roteiro para quem quer ser protagonista da sua história até o fim. Falo de saúde e bem-estar, relacionamentos e sexo, dinheiro, trabalho e economia da longevidade, reforçando o que venho abordando nas cerca de 600 colunas que já escrevi: temos uma missão coletiva, que é combater o preconceito e derrubar os estereótipos que acompanham a velhice. Afinal, afortunados são os que chegam lá. No dia 15 de outubro, às 19h, haverá um lançamento virtual nas redes sociais da Livraria da Travessa, com exemplares autografados.
Confira trecho do capítulo “Ajude os filhos sem se arruinar”:
Os mais jovens têm se deparado com um mercado estagnado, mesmo que tenham cursado boas universidades e feito pós-graduação. Com o desemprego em alta, há os que permanecem na casa dos pais e aqueles que, demitidos, acabam voltando ao lar paterno ou materno – às vezes com filhos.
Ninguém está livre de uma separação complicada, ou de uma crise profissional, mas como dar uma mão aos rebentos sem arruinar a própria poupança e comprometer a aposentadoria?
Ninguém quer ver seu “bebê” sofrendo mas, se você bancar tudo, ele nunca aprenderá a refazer o orçamento num nível compatível com suas reais posses. Ajudar com a compra de supermercado, ou numa despesa extra, é uma coisa. Outra é se comprometer a pagar o colégio dos netos. Por quanto tempo? Não seria mais realista transferir as crianças para uma escola pública?
Educação financeira é importante desde cedo, para se aprender que há limites entre desejos e consumo. É preciso deixar claro que o arranjo deve ser temporário e estabelecer um prazo. Não se trata de ficar indiferente aos problemas, e sim de fixar limites.
Se não for prioridade, não pague. Anote as despesas extras e, ainda que não haja intenção de cobrar, seu filho tem que reconhecer a dimensão do auxílio, até para se motivar a agir. O que não pode ocorrer é essa fase se tornar um sorvedouro que consuma suas economias e o leve ao endividamento.
Mariza Tavares é jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense. Fez mestrado em comunicação na UFRJ e MBA em gestão de negócios no Ibmec. Desde 2016, mantém o blog “Longevidade: modo de usar”, no portal G1, e atualmente integra o conselho editorial da Agência Lupa. Foi diretora-executiva da Rádio CBN entre 2002 e 2016 e, antes disso, editora-executiva do jornal O Globo e repórter da revista Veja.