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A vacina obrigatória vai chegar? | Rubens Marchioni

Segundo pesquisa do Datafolha, para 70% da população de grandes capitais brasileiras, a vacinação contra a Covid-19 deveria ser um procedimento obrigatório. Concordo.

Não obstante as divergências de praxe, uma das forças que movem as pessoas, neste momento, é o desejo de proteger a si mesmas e aos outros contra a doença mortal. Isso apesar de um grande grupo de negacionistas insistirem em afirmar que o Coronavírus é uma gripezinha e que não há qualquer necessidade de proteção contra os seus efeitos – quem sabe do que estou falando, ouviu a voz nefasta de um presidente. Gente que tem certeza de que o uso da cloroquina, substância cujo efeito não foi comprovado, é o suficiente para combater os malefícios da Covid-19. Essas pessoas jogam com a sorte e pagam pra ver, sem se dar conta de que o custo dessa fatura pode ser alto demais para justificar a brincadeira.

O desejo de proteção também esconde certa dose de egoísmo não revelado. Afinal, quem se empenha em proteger o outro quer proteger a si mesmo e às pessoas do seu grupo, antes de tudo. Não, nós não nos tornamos criaturas maravilhosas. Ainda não. Fazer o bem nos conduz até o céu quando tudo terminar. Mas sempre vai ficar a pergunta sem resposta: praticar o bem favorece o outro, objeto do nosso cuidado, ou contribui, antes de tudo, para aumentar o número de pontos do nosso programa de milhagem para a vida eterna? 

Questões filosóficas à parte, a prática de receber a vacina será mantida, uma vez que os efeitos se justificam e todos desejam se proteger. Inclusive eu.

Isso vai implicar a necessidade de saber quando o remédio estará disponível e o grau de segurança oferecido por ele. Por enquanto, tudo de que dispomos são especulações, por vezes contraditórias. Primeiro, um especialista informa que até dezembro de 2020 teremos uma vacina e arrisca o número de pessoas vacinadas no país. Depois, outra informação dá conta de que é melhor não ter grandes esperanças, “tirar o cavalinho da chuva”. Tudo com a garantia de que uma vacina só vai acontecer a partir do ano que vem. E esse período pode ir de primeiro de janeiro de 2021 até a próxima vinda de Jesus. 

O uso do medicamento será indispensável para a prevenção contra a Covid-19, o que justifica a sua adoção, como sabemos. Pensando nisso, será necessário que o produto e os espaços para a aplicação estejam disponíveis para todas as pessoas interessadas no seu uso. Caso contrário, o acesso aos seus benefícios se tornará algo caótico e impraticável. Uma expectativa frustrada.   

Por outro lado, não vai bastar o produto estar disponível no mercado. Será necessária, também, a existência de programas de saúde e de profissionais aptos à sua administração e aplicação.

O ideal é que a vacina imunize o maior número de pessoas, no menor tempo possível, em todo o planeta, com prioridade para as regiões mais empobrecidas. O que não se sabe se, ao certo, vai acontecer. Os Estados Unidos vão às compras e arrematam todo o estoque para uso interno, somente porque Trump decidiu que precisa se reeleger. E os laboratórios alertam para o fato de que não vão abrir mão dos lucros com a venda do produto. Quem tem dinheiro para comprar, compra.   Pensando um pouco em utopia, sem a Covid-19 poderemos, enfim, viver uma vida livre. Exerceremos o nosso direito de ir e vir e de nos relacionar com as pessoas. Tudo isso, sem o risco da morte que ronda por todos os cantos e nos mantém cativos dentro da própria casa. O que só vai ser possível se os efeitos da ganância não se revelarem mais devastadores que o próprio vírus. 


Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]