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“Outono, outono…” | A conquista de Berlim

Durante a noite que antecedeu o 28 de maio de 1944, três grupos de reconhecimento, formados por homens experientes que eu conhecia desde a Batalha de Stalingrado, penetraram detrás das linhas inimigas. A noite era de um calor e uma quietude incomuns. Mas, no front, não se deve confiar na quietude, pois ela pode ser enganadora.

Passei a noite na margem oeste do Dniestre, na cabeça de ponte onde as principais forças do exército estavam operando, embora o Estado-Maior alemão acreditasse, graças a falsos comunicados e relatos presunçosos, que as tropas russas que ocupavam essa ponte na região de Sharneny-Pugocheny haviam sido esmagadas e davam seu último suspiro. As tropas em questão pertenciam ao 62º Exército, que fora rebatizado de 8º Exército da Guarda após a Batalha de Stalingrado. Os generais alemães queriam muito esmagar esse exército e anunciavam esse desejo como se fosse realidade.

Para mim, era importante saber se o inimigo estava se preparando para desferir um novo golpe contra as nossas tropas, que ele tinha conseguido fazer recuar um pouco em direção à margem do Dniestre, ou se ele havia se entrincheirado e esperava por novas reservas.

A observação pessoal do comportamento das tripulações dos tanques alemães nos últimos combates, bem como o próprio estilo do ataque nazista, que tinha sido hesitante no início e, em seguida, de uma violência temerária, com pausas curtas, indicava que o inimigo havia ficado sem fôlego.

Naquele momento, era importante saber se essa suposição era verdadeira, a partir de relatórios de reconhecimento.

Como se sabe, nessa época os alemães já não sonhavam com a conquista do Lebensraum (espaço vital) até os montes Urais; eles estavam tratando de salvar a própria pele, lutando pela vida. Então, o instinto de autopreservação vinha em primeiro lugar.

Esse estado psicológico provoca dois extremos opostos: resistência acirrada, beirando à negligência imprudente, e timidez que se aproxima da covardia mórbida. Esses dois extremos (imprudência e medo) costumam evocar uma atividade mental frenética cujo objetivo é um só: encontrar o meio mais seguro de defesa, atacar o inimigo da maneira que mais lhe cause prejuízo e depois se retirar enquanto a coisa vai indo bem.

Tinha sido bastante eficaz o golpe desferido por duas divisões Panzer e seis divisões de infantaria contra as nossas tropas que haviam ocupado uma cabeça de ponte do outro lado do Dniestre, mas ainda não tinham tido tempo de consolidá-lo plenamente. O inimigo conseguira nos atingir de forma a causar muito prejuízo. Os generais alemães estavam ansiosos para, a todo custo, se vingar do 8º Exército da Guarda, por causa do terrível fim que ele tinha imposto ao exército de Paulus, e tinham escolhido um momento favorável.

Sim, favorável, porque naquele momento, os soldados do nosso exército estavam fisicamente exaustos, no limite da resistência. Eles vinham executando ações ofensivas por quase um ano, sem pausa. A travessia forçada do Donets, ao norte; lutas sangrentas no Donbass; depois, após uma breve pausa para respirar, o ataque a Zaporizhia. Após Zaporizhia, a operação no Dnieper; depois, Nikopol, Apostolovo, a travessia do Bug Meridional, enfrentando estuários (limans) e planícies de inundação; a captura de Odessa; complexas operações de flanqueamento sem usar estradas, quando bombas, morteiros e armas leves tinham que ser operadas à mão o tempo todo, isso sem falar no avanço em alta velocidade por aquela parte da Ucrânia que fica a oeste do Dnieper. O 8º Exército da Guarda era como um pugilista que fora chamado para ir de um ringue a outro, sem intervalo, e lutar com oponentes de pesos variados. Antes da última luta, não houve tempo sequer para respirar fundo e enxugar o suor.


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