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Mudar para sobreviver | Rubens Marchioni

Mudança é sinônimo de insegurança, instabilidade. Ao menos num primeiro momento.

A necessidade atinge, sobretudo, as pessoas que rejeitam qualquer situação cristalizada e que dificulta o crescimento pessoal e coletivo. Ela chega com suas novidades, exige novos espaços e nos força a agir.

Hoje, com a Covid-19 e suas ondas, vivemos um período intenso de provocações e de exigências de mudanças em todas as áreas da nossa vida. Isso não fica restrito a uma região. Atinge todo o planeta, porque o vírus é universal, democrático e fala todos os idiomas. O papel dessa e de outras novas situações é mostrar que, sem mudar, a gente simplesmente não sobrevive. Ficar parado é morrer.

A mudança nos tira da zona de conforto e leva para regiões desconhecidas. Com isso, exige de nós uma análise crítica do cenário onde vivemos. Quando isso acontece, percebemos que a antiga segurança já não serve. Ela não é segura. Aqui e ali, ouço especialistas afirmando que se o “novo normal” é o antigo, é melhor que não venha, porque ele trouxe poucas coisas boas para a sociedade contemporânea. Portanto, não pode se apoderar novamente da nossa casa-mundo. Eis por que precisamos reagir.

Mas, em geral, não estamos preparados para enfrentar esse desafio, às vezes aparentemente maior do que nós. No entanto, hoje dispomos de recursos, sobretudo em termos de informações, que nos oferecem elementos para uma atuação mais eficaz nesse sentido. Porque, acima de tudo, é preciso conhecer bem o terreno onde estamos e aquele onde colocaremos os pés. O futuro é sempre um novo desafio.

A tese que se levanta aqui é de que não podemos permanecer estáticos, sobretudo no mundo de hoje. E ninguém precisa se transformar em poste, não sair do lugar, ou viver de coisas velhas, como um museu.

Para realizar essa operação com sucesso, é preciso abandonar um pouco o senso comum, para o qual a mudança é dispensável, porque “sempre foi assim.”.

Iniciado o processo, pode surgir um período de incubação, o inconsciente buscando o trajeto mais adequado. Afinal, não é sempre que sabemos exatamente o melhor caminho para um lugar seguro. Até que, enfim, chega o momento da revelação, e ele pode acontecer inesperadamente. Então é preciso estar atento, tomar nota para depois iniciar adequadamente o trabalho de elaboração. Ideias são como pássaros, que vem e vão sem pedir licença. Os criativos e os grandes escritores se alimentam dessa prática.

Outro detalhe a ser considerado: a mudança exige precisão no momento de avaliar bem os recursos pessoais para esse passo. Ao mesmo tempo, requer o domínio de habilidades no trato da antiga e da nova conjuntura. O que exige atitude de quem se dispõe a iniciar essa empreitada, porque ela envolve certa dose de esforço.

Ao mesmo tempo, e acima de tudo, é preciso ter clareza quanto à ação que vai dar a tônica da decisão e da sua prática. Assim como saber que conteúdos devem ser transformados ou preservados e o passo a passo mais eficiente para se atingir os melhores resultados.

Na viagem de turismo, a paisagem pode contar tanto quanto o destino. Aqui, às vezes o processo vale o mesmo que o resultado desejado. Para isso, convém cuidar muito bem de toda a elaboração do trabalho, que começa agora.

Nesse sentido, vale identificar com clareza: qual é o motivo pessoal ou corporativo que justifica a mudança? Que recursos, materiais e psicológicos, são necessários para isso? E novamente somos forçados a privilegiar o essencial, em detrimento do importante e acidental. Quem se prende a detalhes, nesse momento, acaba se perdendo pela ausência de foco.

Quando estamos no cenário que pede mudanças, vivemos ainda com algumas deficiências, motivo pelo qual precisamos agir nessa direção. A Economia, em sentido amplo, além dos recursos econômicos pessoais, tudo é importante para que o processo aconteça plenamente. Parte dele requer, em algumas vezes, a ação do poder e da política para se tornar viável. Sempre lembrando que o processo não pode ser comprometido por ideologias que não levam a lugar nenhum. Caso contrário, fica impossível deixar o estágio de deficiência para entrar no terreno do crescimento, agora em novo ambiente.

Não se pode, portanto, perder de vista o que é importante nesse trabalho. Ele precisa se sobrepor ao meramente acidental, que pode ficar para depois. Isso, naturalmente, exige boa dose de racionalidade, para evitar armadilhas – o cérebro humano é pródigo em inventar desculpas quando isso interessa. Além de força de vontade para agir de maneira eficaz.

Todo esse processo tem um custo, exige esforço humano, como disse – é o preço a se pagar. No final, tudo deve nos levar a um estágio de bem-estar, que recompense todo o investimento feito para e durante a mudança.

Se for o caso, sobretudo no ambiente corporativo, é importante que o público-alvo tome conhecimento do seu resultado. Isso se faz por meio de uma comunicação bem pensada. Ela deve ser capaz de chamar a atenção, despertar o interesse e o desejo e, por fim, levar as pessoas ao envolvimento teórico e prático. O que fica ainda melhor quando se deixa de lado a exaltação dos atributos da mudança e seus resultados, focando nos benefícios e valores trazidos, além do convite para a utopia. Se as pessoas entenderem a linguagem e tiverem um grande sonho, elas vão mais longe. 

É preciso, no final, perceber se o resultado obtido corresponde ao que causou a necessidade de mudança e ao processo feito para esse fim. Ao mesmo tempo, é indispensável tornar disponíveis esses resultados, sobretudo para as pessoas a quem desejamos impactar. O que vem a seguir é a verificação, para perceber o quanto se obteve de resultados válidos. E, se for o caso, reiniciar o processo, com vistas às correções e aos ajustes necessários. Mudar é assim: uma prática que pode exigir correções antes, durante e depois de tudo.


Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]