Fechar

Marcelo Barreto fala dos camisas 10 e elege os melhores brasileiros na função

JULIANA FARANO
colaboração para a Livraria da Folha

CAPA MELHORES CAMISAS 10_WEB Antigamente, quem jogava com a camisa 10 era um meia armador, com inteligência pra criar jogadas criativas e habilidade para avançar no ataque. Hoje em dia, a numeração está mais flexível dentro do futebol e os jogadores deixaram de ter a obrigação de associar suas posições aos algarismos estampados nas vestimentas. No Brasil, às vezes o 7 é um 23, o 18 faz o trabalho do 9 e até o 1 acaba jogando com a 12.

No chamado futebol moderno, o termo “camisa 10”, alçado por Pelé na seleção brasileira e no Santos, ganhou outro significado. Mais do que uma dezena completa marcada no tecido do uniforme ou uma posição tática dentro de campo, ser 10 é ser craque, chamar pra si a responsabilidade e ir além dos gramados. No caso do livro “Os 11 Maiores Camisas 10 do Futebol Brasileiro” (Editora Contexto), quem matou a bola no peito e levou sozinho pra dentro da área foi o jornalista e apresentador da Sportv Marcelo Barreto.

O autor, que quando criança gostava de se imaginar entrando em campo no Maracanã –com a 10, é claro– teve que escolher 11 entre os inúmeros talentosos jogadores brasileiros que exerceram a função para registrar os fatos mais marcantes de suas carreiras.

A lista de Barreto foi fechada com Zizinho, que usou a 8 no Maracanazzo de 1950; Pelé, o inventor do conceito de camisa 10; Ademir da Guia, que brilhou no Palmeiras na década de 1960; Rivellino, ídolo do “hermano” Maradona; Dirceu Lopes, que carregou o número nas costas no Cruzeiro; Zico, o galinho de Quintino; o galã do tricolor Raí; o polêmico Neto, herói da torcida corintiana; o campeão do mundo Rivaldo; o tão cobrado e genial Ronaldinho Gaúcho; e o centrado Kaká.

Com sua escalação definida, Barreto já se preparou para as cornetas dos torcedores. “Uma relação dessas nasce para ser contestada, acho que nem meu pai concorda cem por cento com a minha lista”, conta. Alguns teceram críticas em relação à escolha de Neto, outros à definição do que é um camisa 10 e até Zico, no posfácio da obra, destaca que Dida, jogador que o inspirou no futebol, ficou de fora.

Polêmicas à parte, Barreto concedeu entrevista à Livraria da Folha e falou sobre os craques escolhidos, as expectativas para a Copa do Mundo e o futuro dos camisas 10. Veja abaixo.

*

Marcelo Barreto inclui Ronaldinho Gaúcho, Neto e Kaká em sua  listaLivraria – Como surgiu o convite para escrever o livro?
Barreto – Foi indicação de meu bom amigo Maurício Noriega, autor de “Os 11 Maiores Técnicos do Futebol Brasileiro”.

Livraria – Como você define um camisa 10?
Barreto – Primeiro, o livro explica –ou pelo menos tenta explicar– que camisa 10 não é posição, é função. Uma função tão transcendente que virou expressão até mesmo fora do futebol. Um cara bom no que faz é um “camisa 10”. Então, o escolhido tinha sempre que ter um pouco dessa transcendência.

Livraria – Quais critérios você adotou para escolher os 11 jogadores?
Barreto – Não cheguei a um critério único. Pelé era óbvio, foi o inventor da camisa 10. Mas Zizinho foi o primeiro grande craque brasileiro antes dele com a função de comandar o time, então, elegi-o como precursor. Para escolher os outros, acabei me baseando numa mistura de critérios técnicos e emocionais. O Neto, por exemplo, não tem o cartel de títulos dos outros –mesmo os mais jovens, como Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Mas tem aquela transcendência.

Livraria – Antes de escrever, você se preparou para lidar com as escolhas polêmica?
Barreto – Uma lista dessas nasce para ser contestada. Então, claro que estava preparado para a polêmica. O livro vai, em grande parte, se alimentar dela também. Acho que nem meu pai concorda cem por cento com a minha lista.

Livraria – Algumas pessoas se manifestaram em comunidades no Orkut contra o nome de Neto, alegando que o jogador não tinha a habilidade necessária para estar entre os maiores camisas 10. Como você justifica essa escolha?
Barreto – Eu sempre soube que seria a escolha mais contestada. Discuti algumas escolhas com a editora, mas essa eu chamei para mim. Acompanhei a carreira do Neto e tenho plena consciência de que ela não é do tamanho dos outros camisas 10 do livro. Aliás, ele também tem. Eu o encontrei num jogo da seleção brasileira, contei que estava escrevendo o livro e perguntei se ele se escalaria. A resposta foi maravilhosa: “Putz, meu! Tecnicamente, tinha muita gente melhor do que eu. Mas se você puser meu nome na lista, vai vender muito livro.” Pois foi ali que decidi de vez botar o nome na lista. Não para vender mais livros, mas porque um cara que dá uma resposta como essa é muito mais do que um simples jogador de futebol. O Neto entendeu como poucos o que representa ser um camisa 10.

Livraria – Você incluiu o Ronaldinho Gaúcho em sua lista. Você acha que ele merece disputar a Copa-2010?
Barreto – Pode parecer uma contradição em termos, mas acho que não. Escolhi o Ronaldinho para a lista pelos anos em que ele jogou efetivamente como um camisa 10, até 2006. Depois, a carreira dele foi ladeira abaixo. Mas isso aconteceu com outros escolhidos –o Neto talvez seja o maior exemplo, mas o Dirceu Lopes também pode se encaixar nessa definição de jogador que deixa o topo ainda nos anos em que poderia ser mais produtivo. Acho até, como quase todo mundo, que o Ronaldinho voltou a jogar bem, mas só bem, nada espetacular como andam dizendo.

Livraria – E quanto ao Kaká, você acha que ele pode fazer a diferença no Mundial?
Barreto –É bom que faça, porque na seleção do Dunga só ele pode transformar o time. Nosso segundo melhor jogador é o Júlio César, mas é raro um goleiro ser a grande figura de uma Copa. Então, é bom o Kaká se recuperar logo dessa pubalgia.

Livraria – Entre os 11 jogadores do livro, qual você considera o melhor e mais autêntico camisa 10 de todos os tempos?
Barreto – Vamos considerar o Pelé hors concours? Então acho que é o Zico. Acompanhei toda a carreira dele e para mim sempre foi um modelo de jogador, dentro e fora de campo. O jeito dele de jogar, buscando sempre o gol, representa a essência do futebol. Se eu soubesse jogar bola, jogaria como ele.

Livraria – No futebol de hoje, é comum ver jogadores improvisados em diversas posições, especialmente no meio de campo. Existe uma carência de atletas criativos para se tornarem autênticos camisas 10?
Barreto – Essa é uma reclamação dos próprios treinadores. É que o Brasil, país que inventou a camisa 10, virou fornecedor de mão de obra. E europeu gosta de jogador grande. Então, o cara que tem talento para volante vira zagueiro; o que leva jeito para meia vira volante; se souber fazer gol, vira atacante, que também tem mercado. E o camisa 10 fica perdido nesse processo.

Livraria – Entre os atletas mais jovens, quais são os que se destacam fazendo a função de camisa 10 e que podem ter chances de figurar em uma lista como a sua?
Barreto – Os que vejo com esse potencial são muito jovens. Giuliano, do Inter, Philipe Coutinho, do Vasco, Paulo Henrique, do Santos. Eles têm o jeitão do camisa 10, mas é muito difícil dizer tão no início da carreira se vão ter potencial para entrar numa edição futura do livro. Mas o melhor jogador jovem do Brasil é um atacante: Neymar.

(via Livraria da Folha)

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.