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Escrever um livro exige disciplina e dá trabalho. Mas é fácil. Siga o roteiro – Parte IV | Rubens Marchioni

Escrita CriativaVAMOS RETOMAR A conversa que ficou na Parte III. O seu trabalho, na produção do livro, está a caminho. Ele dá passos largos? Não necessariamente. Mas não é preciso. Não se entregar ao imediatismo é uma decisão saudável. Os melhores pratos não são aqueles encontrados nos restaurantes fast food. Afinal, eles exigem um tempo maior de preparo. E isso vale para o seu livro, claro. Ele deve ser degustado com prazer até a última página.

Ampliar cada storyline, transformando-o em sinopse

Você escreveu o storyline de cada parte da sua obra. Agora ela deve ser transformada numa sinopse, isto é, um texto mais longo que, no entanto, mantém suas raízes. De posse desse resumo bem calculado do conteúdo a ser desenvolvido, releia o que escreveu. O que você pode acrescentar para que o texto fique mais completo e com maior riqueza de detalhes?

Uma sugestão: pense como roteirista, e imagine que seu trabalho será transformado em filme por outra pessoa. De que dados mais concretos ela precisa para não fugir da ideia principal, aquela que por enquanto está somente na sua cabeça? O que você deve informar a fim de que o resultado permaneça fiel àquilo que foi pensado e deve ser visto na tela? Por exemplo, se num storyline você, em algum momento, diz algo como ‘uma pessoa’, agora a defina um pouco: sexo, idade, profissão, classe social etc.

Pensando nisso, como você enriqueceria o que está escrito?

  • Chamando a atenção para atributos, numa escalada para os benefícios oferecidos por eles, e a maneira como podem atender aos valores do leitor?
  • Transferindo conhecimentos, isto é, o conceito sobre o assunto, para que ele saiba exatamente do que se trata?
  • Ensinando-o, por meio de uma linguagem própria, a utilizar na prática o que agora conhece na teoria?
  • Motivando-o a agir, a fim de que se envolva com o assunto?
  • Destacando e diferenciando o que é essencial, importante e apenas acidental no problema discutido?
  • Apresentando as razões para se criar e fazer algo, listando os recursos necessários, a ação de cada pessoa envolvida e os resultados esperados?
  • Discutindo o problema da aplicação do senso comum e do senso crítico na reflexão sobre o tema, atento para o fato de que o primeiro tende a predominar?
  • Defendendo a importância de olhar para determinado cenário, julgá-lo e agir em função do que foi percebido?
  • Apresentando o assunto dos pontos de vista da ciência, economia, política, ideologia, religião etc.?

Continue.

  • De que premissa você está partindo?
  • Qual é o conceito utilizado?
  • Que efeito algo produz ou, qual a relação causa-consequência, nesse caso?
  • Como e quando esse efeito se manifesta, e onde isso acontece?
  • Como o assunto pode ser problematizado?
  • O que já foi feito e quais foram os resultados?
  • Quais as soluções possíveis no momento?
  • O que mais gostaria de acrescentar?

A lista sugerida aí em cima não precisa terminar aqui. O que mais é necessário acrescentar para que sua obra atinja os fins a que se propõe quando estabeleceu o Objetivo?

Relacionar informações – lembranças, experiências, pesquisa bibliográfica etc.

Quando vai preparar uma refeição, o primeiro passo, para um chefe de cozinha, é saber exatamente quais os ingredientes necessários para elaborar aquele prato. Caso contrário, existiria o risco de perder tudo o que foi feito. É que enquanto vai de novo ao supermercado comprar o item que faltou, algo que já estava encaminhado pode desandar e acabar no lixo. Portanto, não corra esse risco. Não perca a chance de entrar para o Guia Michelin, o Olimpo dos profissionais da gastronomia, devido a um descuido evitável. Seu livro não pode desandar.

Assim, a partir dessa ou de outra lista, comece por relacionar tudo que pretende discutir em sua obra. É como se você estivesse preparando a lista do supermercado. Anote tudo o que lembra. Vá buscar suas lembranças, experiências, leituras, tudo o que puder.

Não aceite o aparecimento de buracos no final do trabalho. Não permita que o leitor fique sem informação ou desorientado – um dos motivos por que você aprendeu muito é ter condições de traduzir para uma linguagem simples e inteligente o que parece complexo.

Evite situações em que seu raciocínio seja derrubado com um ‘como?’ e um ‘por quê?’. Certifique-se de que os argumentos estão bem construídos.

Pense no que precisa ser descrito com mais ou com menos detalhes. E no que deve ser narrado para que a compreensão de um fato seja potencializada, a fim de que ninguém possa afirmar coisas como ‘essa história está mal contada’, e assim colocar em dúvida a seriedade do seu trabalho.

Lembre-se que, ao mesmo tempo em que se coloca a serviço, você está se abrindo para o diálogo com pessoas que não conhece. Depois que o livro estiver impresso, não há nada que se possa fazer para eventuais correções a não ser esperar pela segunda edição. E isso, na maioria das vezes, é imprevisível.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — http://rubensmarchioni.wordpress.com