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Escrever não é só dominar e aplicar técnicas | Rubens Marchioni

Mais do que isso, é preciso ter  atitude suficiente para não esperar milagres. Técnica sem atitude não é nada. É recurso que não produz. Não entrega.

A propósito disso, convém lembrar que, com disciplina, o terreno da técnica revela as suas possibilidades. E pode até impressionar pelo seu alcance. Tudo é uma questão de empenho por parte do futuro escritor, determinado a celebrar o surgimento de uma nova habilidade em sua vida. Mas habilidade sem a atitude que rompe bloqueios não constrói. Assim como a receita, por si mesma, com seus “Ingredientes” e seu “Modo de fazer”, não produz alimento.

Para que o simples desenvolvimento das técnicas aconteça, basta conhecer cada uma delas e os detalhes da sua execução, exercitando-as até conseguir um resultado próximo do ideal. Ora, nesse processo, a primeira parte (obtenção do conhecimento) pode ser feita por meio dos livros. O treino, por sua vez, nasce de uma prática diária e disciplinada. No entanto, de pouco adianta conhecer e saber fazer. É indispensável que isso venha acompanhado do desejo de colocar esses conhecimentos e habilidades em prática com a devida frequência. Romper bloqueios ilusórios até chegar a algo próximo do que é o melhor em termos de performance. Romper bloqueios: eis o desafio mortal.  

Quando se trata de ter o desejo de fazer, indispensável para a quebra de paradigmas que emperram o processo criativo, aprendidos em casa, na escola etc., o jogo tem contornos próprios. Algumas regras não estão nos livros puramente técnicos. O que deixa desamparado o candidato a escritor que optasse pelo comportamento – perigoso pelas armadilhas que esconde – de decidir que não dispõe da inspiração necessária para produzir uma obra escrita que mereça esse nome. O que esperar dessa escolha? Se o caminho que se coloca é o mais desastroso, porque bloqueia o desenvolvimento, a resposta, inevitável, salta aos olhos: o aborto de qualquer possibilidade de sucesso no campo da escrita.

Então, lembre-se: você não precisa ficar esperando pela inspiração, que simplesmente pode não aparecer – os maiores escritores sempre fugiram dessa armadilha. Portanto, mude as regras desse jogo. Por exemplo, comece por escrever uma palavra, uma palavra qualquer, ou uma frase, e deixar que ela fale. A propósito disso, convém lembrar que não é a inspiração que leva à produtividade, mas o contrário. É o ato de escrever muito, como se trabalhasse numa escavação, que faz com que a ideia, escondida no subconsciente, comece a ganhar espaço externo, brilhar. Nesse caso, uma palavra puxa a outra, uma frase puxa a outra, um parágrafo puxa o outro e, quando você se dá conta, seu texto ficou pronto. Esse trabalho difícil é de uma facilidade extrema e encantadora.

Começar: o que conta, neste caso, é começar. Fazer isso de maneira tosca e sem expectativas quanto à excelência. Ela será buscada num segundo momento, quando existir a primeira versão, pronta para o trabalho de revisão, de reescrita. Porque, convenhamos, ninguém edita o que não existe, assim como é impossível decorar uma linda casa se ela ainda não saiu da mente do arquiteto. Resumindo, é começar ou nunca fazer nada.

Sem o desejo de transformar ideia em texto, rompendo bloqueios, nenhuma técnica vai resolver. Por quê? Porque ela não tem o respaldo da atitude indispensável para tomar corpo, informação, emoção, serviço, enfim. E quem não entrega isso está longe de ser escritor.


Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]