Vivemos tempos bicudos nas diferentes áreas de nossas vidas. No campo da economia e da política, por exemplo, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Felizmente, a esperança é a última que morre. E esse é o motivo por que continuamos firmes em nossa caminhada.
De um jeito ou de outro, não importa o tamanho dos desafios, não perdemos de vista o fato de que a mais alta das torres começa no solo. E que, também nesse caso, a pressa é inimiga da perfeição. O critério vale também pra mim, que agora trabalho na construção desse mosaico feito com ditados populares. Mais do que escritor, devo ser reescritor.
Mas vamos em frente com nossa reflexão sobre a vida e suas demandas. Falei em esperança. A propósito disso, nunca perdi de vista o fato de que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Talvez se baseasse nisso o lema adotado pelo cardeal Arns, quando pilotava a complexa Arquidiocese de São Paulo – Ex spe in spem, ou seja, De esperança em esperança, em latim e português. Isso o levava sempre para frente em todas as lutas que assumia, no púlpito, no texto, no palácio ou na favela. O tempo todo, ele estimulava o povo segundo a ideia de que a união faz a força – uma andorinha só não faz verão, mesmo sendo verdade que, aqui e ali, sempre aparece um vira casaca. O cardeal demonstrava uma convicção ferrenha no fato de que a voz do povo é a voz de Deus.
As pessoas entenderam que Deus escreve certo por linhas tortas. E que o mesmo Deus ajuda a quem cedo madruga para enfrentar, como comunidade, as suas muitas lutas – individualmente, cada um sabe onde lhe aperta o sapato, mas para se conquistar a vitória, a luta deve ser coletiva. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. É por essas e outras que o resultado não demorava a aparecer. Havia iniciativa. Havia atitude.
De minha parte, sempre acredito que uma conquista pode até chegar um pouco depois da meta estabelecida, mas antes tarde do que nunca, e quem tudo quer, tudo perde. Afinal, mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Detalhe importante: quem espera sempre alcança, como você sabe.
Portanto, nada como um dia após o outro: isso é manter viva a esperança que nos move. Mas não se trata de praticar a esperança, apenas. O ideal, como sugerido pelo educador Paulo Freire, confundido às vezes com Paulo Coelho, é “esperançar”. É que a esperança que não se faz na ação, dizia Freire, não é uma esperança esperançosa. Ação é o que conta, porque um gesto vale mais que mil palavras. E isso tem a ver com a necessidade de não deixar para amanhã o que você pode fazer hoje. O oposto, a procrastinação, seria tão prejudicial quanto.
Por isso, não ponha a carroça na frente dos bois, porque o ótimo é inimigo do bom. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra; nem oito, nem oitenta, eis o ponto de equilíbrio – virtus in medium est. Nesse sentido, não posso deixar de lembrar que o pior cego é o que não quer ver essas verdades. E para bom entendedor, meia palavra basta. Portanto, não adianta fugir da realidade. É preciso pôr a mão no fogo, mesmo sabendo que, segundo o que assegurou certo dirigente lendário de um importante time de futebol paulista, quem põe a mão no fogo é pra se molhar.
Como diz o ditado, quem não arrisca não petisca. Arrisquei. Aqui está o texto.
Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]