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Do analfabetismo à violência

Esta é uma obra voltada para professores, estudantes de Letras e profissionais da Educação. Tem como meta demonstrar como a Linguística, com base na Sociolinguística, na Psicolinguística e na Linguística Cognitiva, pode contribuir para diminuir os índices alarmantes do analfabetismo, decorrentes de alfabetização inadequada praticada em nosso país.

Do analfabetismo à violência

O livro assume o desafio de explicar alguns padrões linguísticos que retratam a violência, manifestada verbalmente de diversas formas dentro das escolas, especialmente por parte do aluno vulnerável, desprovido no seu cotidiano de acesso e de apropriação de sintaxes marcadas pela impessoalização, desejável no curso do letramento formal. Demonstra a importância de desenvolver nos aprendizes a consciência do emprego de sintaxe autocentrada para a apropriação de paradigmas verbais com baixo grau de subjetividade e alto índice de informatividade. Atesta que, ao longo da escolarização, o aprendiz é levado à prática de gêneros menos opinativos e à adoção de padrões sintáticos de menor índice de transitividade, segundo os ditames da gramática funcional. Ainda, a obra se compromete a oferecer nova tecnologia, por meio do SABERE, plataforma democrática de linguagem amigável para o cotidiano de sala de aula entre professor e aluno, para fins de diferentes atividades didáticas.

Assim, este livro pensa alguns dos entraves da escola brasileira no que tange ao ensino de língua materna à luz da Ciência da Linguagem. Desde a Constituição de 1988, o país conseguiu universalizar o acesso da população ao ensino nos níveis fundamental e médio, sem, no entanto, garantir qualidade na entrega de educação competitiva mundialmente.

São muitos os motivos de estarmos convivendo com problemas graves. Alfabetização deficiente, ausência de modernas e atraentes tecnologias, ambiente inadequado de estudo estão no rol dos entraves para o bom desempenho das crianças e jovens nos colégios. Cabem, então, as perguntas:

  • Há entendimento claro e científico por parte de educadores sobre aquisição e desenvolvimento da linguagem? Sobre a apropriação da cultura letrada? Sobre os gêneros discursivos em desenvolvimento? Sobre as construções linguísticas que os tipificam numa trajetória bem-sucedida ao longo da escolarização? Sobre o adequado ensino de gramática?
  • O que a Ciência da Linguagem tem a oferecer?

Os especialistas em Educação sabem que o conhecimento é adquirido em vários espaços. Sabem também que a população da rede privada tem oportunidade de construí-lo igualmente na família, no meio social que frequenta, em atividades culturais, em viagens, entre outras, enquanto a população da rede pública fica praticamente restrita às agências de letramento, em vista de o meio social, em geral, carecer de quesitos básicos para a sobrevivência das pessoas, com pouca ou nenhuma vinculação com os avanços contemporâneos.

Como enfrentar as diferenças? Como diminuir a desigualdade? Como lidar com a população que só conta praticamente com a escola? Como impedir que os conflitos do meio familiar ingressem no ambiente de aprendizagem? Como melhorar o desempenho do aluno mais vulnerável? O uso da tecnologia pode ser uma saída?

Essas perguntas constituem motivação suficientemente forte para a contribuição das reflexões desenvolvidas neste livro. Do analfabetismo à violência: contribuições da Ciência da Linguagem coloca em cena a violência do interior do ambiente de aprendizagem, provavelmente trazida dos contextos de que os alunos são egressos, com o objetivo de introduzir as bases linguísticas em que se assentam algumas ideias
sobre como é a linguagem do noviço e como se quer desenvolvê-la no processo escolar.

O livro atesta e analisa o uso de padrões linguísticos e cognitivos que refletem claramente a agressividade das emoções, expressa nas relações que se estabelecem entre discentes na agência escola. Com toda certeza, trata-se de ambiente desfavorável à construção do conhecimento e à apreensão dos conteúdos sistemáticos dos letramentos institucionalizados, nos níveis esperados nacional e internacionalmente.

Os autores deste livro rediscutem o alfabetismo insuficiente como resultado de metodologias não eficazes de ensinagem e de inadequada qualificação docente. Consideram os métodos de alfabetização relevantes, quando se levam em conta princípios importantes da Psicolinguística e da Sociolinguística, para fins de constituir terreno sociocognitivo de aprendizagem singular e prazeroso para cada principiante na educação formal. Repensam as estratégias para o atingimento de aprendizagem face ao ranqueamento sofrível do país nas diversas avaliações nacionais e internacionais, que medem as competências de leitura de nossos alunos que não compreendem o que leem.

No primeiro capítulo, são postos os relatos de episódios de violência não só no espaço escolar como fora dele, entendendo que o cenário contemporâneo encontra raízes em diferentes fontes. Reflete-se sobre a situação em que se encontram as manifestações linguísticas nos espaços educacionais, atualmente, com ênfase nas que fotografam a violência e os conflitos na escola. Focalizam-se as estruturas sintáticas que codificam as construções que expressam bullying, tratando-as como padrões linguístico-cognitivos no âmbito da “gramática das emoções”. Com efeito, o diálogo para mitigar confrontos exige também especialidade linguística para se entender a lógica gramatical agressor-vítima e assim ser revertida, interceptada e transformada.

No segundo capítulo, atenta-se para o processamento da leitura e para o fracasso escolar. O ambiente inadequado para a construção do conhecimento supõe a consideração de variáveis sociais e culturais que podem obstaculizar o desenvolvimento natural e esperado do aluno mais carente em especial. É, pois, desejável levar em conta os mecanismos sociolinguísticos e psicolinguísticos que norteiam a base cognitiva do ato de ler nos estágios iniciais de noviços, crianças ou adultos.

No terceiro capítulo, a obra traz à baila questões relacionadas ao uso de tecnologia na escola, ao demonstrar a relevância de práticas pedagógicas democráticas na utilização de plataformas digitais interativas. Estamos a falar de espaços virtuais especialmente constituídos para o treinamento da escrita, da compreensão da leitura, da pesquisa e da construção de relatórios qualiquantitativos, distintos do que se conhece hodiernamente como ensino à distância. Advoga-se, assim, a implementação de tecnologia inovadora para trabalhar o aluno de baixa renda, com características sociais vulneráveis, normalmente desfavoráveis à construção do conhecimento.

Ressalta-se, então, a premência da construção da cyber-rede social, propositalmente relativa à formação de grupos a partir do compartilhamento de traços identitários. O objetivo é o de fomentar a interação e o diálogo entre os atores da escola na busca do preenchimento de lacunas quanto à formação de redes sociais no contexto digital. A compreensão é a de que recursos tecnológicos devem também servir para a compilação e exploração de cybercorpus, para o mapeamento dos perfis sociais do aluno alvo a ser favorecido. Os resultados do emprego das plataformas apontam para a enorme vantagem de se recorrer à tecnologia na formação de discentes pesquisadores e na capacitação de docentes em linguagem.

Com este livro, entende-se ser imprescindível lidar com a violência na escola, situação que mina o habitat adequado para o estabelecimento de vínculos saudáveis entre docentes e discentes para a construção do conhecimento. Considera-se procedente a implantação de tecnologia eficaz em linguagem, arquitetada como investimento inovador para a educação atual e para as bases linguísticas teóricas e metodológicas de uma alfabetização consequente.

Quer saber mais acesse o Leia um trecho


Os autores:
Maria Cecilia Mollica é titular em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora I do CNPq. É docente no Programa de Pós-graduação em Linguística e do PROFLETRAS da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e desenvolve investigações no nível teórico, aplicado e em áreas de interfaces afetas à linguagem nas fronteiras da educação, saúde, tecnologia e ciência da informação. Tem sido responsável pela formação de várias gerações de linguistas no Brasil. Exibe vasta publicação no campo com alguns livros editados também pela Editora Contexto.

Andreia Cardozo Quadrio é doutoranda em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Letras pelo Mestrado Profissional em Letras –
PROFLETRAS – na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pós-graduada em Linguística e Literatura pela Universidade Católica de Petrópolis. Formada em Letras, com licenciatura em Língua Portuguesa e Literatura de línguas portuguesas pela Universidade Católica de Petrópolis. Atua como docente em Língua Portuguesa na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ).

Hadinei Ribeiro Batista é doutor em Tecnologia e Inovação em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e possui mestrado em Linguística Teórica e Descritiva pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atuou como pesquisador visitante em Lancaster University-UK, onde desenvolveu pesquisa sobre construção de cybercorpora, educação e identidade social. É professor da Universidade Estadual de Minas Gerais – Unidade Divinópolis.

Mariana Fernandes Fonseca é doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística, e bacharel e licenciada em Letras (Português e Latim) pela mesma universidade. Foi mediadora das Jornadas Pedagógicas de Educação Infantil da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro (2013-2017). É professora de educação infantil no Município do Rio de Janeiro e assessora III da Escola de Formação Paulo Freire.