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Coronavírus: muitas perguntas, poucas respostas| Rubens Marchioni

Pronto, aqui estou eu, novamente, falando do Coronavírus. Confesso que nunca vivi uma abundância de temas para escrever como a que tenho agora. 

Não é pra menos. O mundo não fala em outra coisa. No último domingo, por exemplo, assisti a um programa, na TV, com seis intermináveis horas de duração. E não faltou assunto.

Mas, a propósito disso, estamos mergulhados em perguntas sobre o tema e carecemos de respostas. Vamos a algumas questões, e nem todas estão aqui.

1. O fechamento de escolas é uma saída que já faz parte de soluções adotadas pelo governo. O envolvimento já acontece. No Facebook, uma menina, com voz angelical, alardeia que “Hoje não teve aula, porque tem o Coronel Vírus, que tá matando todo mundo.” Sem aulas, com quem ficam as crianças, se os pais precisam trabalhar fora? Com os avós, exatamente o maior grupo de risco? E quanto àquelas que vão à escola para se alimentar e, de repente, até aprender alguma coisa? Haverá um sistema de delivery? Elas pedirão comida por um aplicativo? O poder público disse que vai providenciar espaços para acomodar essas crianças. Qual será a logística envolvida nesse projeto cheio de complexidade? Em tempos de paz e relativa normalidade, mães perambulam dias seguidos em busca de uma creche, geralmente sem sucesso. Agora, esses locais vão surgir como que num passe de mágica?

2. A recomendação é evitar o transporte público, com seus ônibus, trens e metrôs, sempre lotados. Como é possível fazer isso, quando não se dispõe de carro próprio? E, na hipótese de estarmos todos motorizados, nossas ruas comportariam a circulação de tantos veículos? Sem rodízio? Stop!

3. “Se você não pode ir para o trabalho, fique em casa, isole-se”, eis a recomendação corrente. Pergunta-se: seu patrão já sabe disso? Ele concorda? E, considerando-se o fato de que vivemos no Brasil, país em que para boa parte da população as condições sociais são precárias, como manter o isolamento de alguém que vive, com mais quatro pessoas, em uma pequena casa feita de dois cômodos? Será que o prefeito do Rio vai dizer, como no caso das inundações de março, que a culpa é das pessoas, por não escolherem onde morar, preferindo montar suas tendas em áreas de risco? Uma questão de falta de bom gosto arquitetônico, que as impede de saber avaliar uma obra com a assinatura Adolpho Lindenberg, projeto arrojado, nascido na cabeça revolucionária de Pablo Slemenson?

Tudo bem, uma parte dos profissionais pode trabalhar de casa, no sistema home office. Mas estamos preparados para isso? O que sabemos a esse respeito? O que pode e o que não pode ser feito nesse regime? Que práticas, em termos de organização e método, são necessárias? Que interações são indispensáveis para que o trabalho aconteça? E quanto à comunicação escrita, uma dificuldade enorme para tanta gente? Por outro lado, de que meios dispomos, em casa, para isso? E aqui falo de recursos técnicos e de outro fator, indispensável, a disciplina, não apenas do profissional, mas de toda a família. Sim, porque se cada um achar que porque alguém está em casa em plena terça-feira ele se encontra disponível para jogar conversa fora, ir ao supermercado ou fazer uma pequena viagem para buscar um familiar, a pandemia vai transformar o ambiente interno dessa família num pandemônio. Falo isso com base em tantos depoimentos que li a respeito das dificuldades encontradas, por parte de empreendedores, quando o assunto é ter o escritório em casa. Quando as estações, vida pessoal, familiar e profissional, se misturam com tamanha frequência, as condições para um incêndio estão presentes, faltando apenas uma pequena faísca.

Minha grande esperança: que o Coronavírus acelere a chegada de práticas adiadas por muito tempo, e isso torne a vida muito melhor quando o furacão tiver ido embora, daqui a alguns meses. Sim, isso pode acontecer. E nós queremos estar lá para celebrar essa nova grande conquista que deve mudar o nosso jeito de pensar e agir.

Participe com a sua contribuição a partir de agora. Se não por você, ao menos em respeito àqueles que não desejam morrer.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected]  — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao