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Conceitos básicos de linguística: níveis de análise

A linguística é, hoje, uma área bem estabelecida nos cursos de Letras do país: além de estar presente nos níveis de graduação e de pós-graduação, a linguística conta com pesquisadores e produção qualificados, em uma ampla gama de pontos de vista e abordagens.

Conceitos básicos de linguística: níveis de análise

Pensando nisso é que organizamos este terceiro volume de Conceitos básicos de linguística, agora com o subtítulo Níveis de análise. Nossa intenção aqui foi organizar um livro complementar aos precedentes, Conceitos básicos de linguística: sistemas conceituais e Conceitos básicos de linguística: noções gerais, que apresentasse ao aluno os diferentes níveis da análise linguística. Assim sendo, este terceiro volume da coleção contempla áreas que investigam das menores unidades linguísticas (os fones, os fonemas, os traços fonológicos), passando por unidades intermediárias (as sílabas, os morfemas, as palavras, os sintagmas, as frases fonológicas, as sentenças), até domínios e unidades maiores (a situação de enunciação, o texto, discurso). Essa organização se reflete no sumário do livro, como o leitor poderá notar. Obviamente, os domínios não são estanques; antes, são construções abstratas advindas dos modelos de teoria e de análise linguísticas. Muitas vezes, os domínios, inclusive, se sobrepõem, o que nos permite falar em fenômenos fonético-fonológicos, semântico-pragmáticos, textuais-discursivos, sintático-prosódicos, morfofonológicos, sintático-semânticos, léxico-gramaticais, enunciativo-discursivos, morfossintáticos etc.

Por isso, apesar de o sumário estar disposto de uma maneira que, tentativamente, unidades linguísticas até os maiores domínios de análise, isso não significa que a leitura ideal deste volume seja essa – se é que existe tal leitura ideal. Ao invés disso, pensamos que uma leitura proveitosa pode ser temática ou teórico conceitual. Por exemplo, o leitor interessado no conteúdo “gramatical” stricto sensu pode seguir esta ordem de leituras dos capítulos: “Fonologia”, “Fonética”, “Prosódia”, “Morfologia”, “Sintaxe” e “Léxico”. Se o leitor deseja começar pelos domínios “maiores” de análise linguística, uma sequência interessante de leitura pode ser “Semântica”, “Pragmática”, “Enunciação”, “Texto” e “Discurso”. Nada impede, porém, que o leitor faça seu próprio percurso investigativo no interior do conjunto das reflexões aqui desenvolvidas, em articulação com o conteúdo presente nos dois volumes anteriores de Conceitos básicos de linguística.

Conceitos básicos de linguística: níveis de análise

Pensamos que este livro pode ser usado preferencialmente de três maneiras:

(i) longitudinalmente, em uma disciplina de introdução ampla à linguística, em que o professor conduz os alunos pelos caminhos da linguagem e apresenta os diferentes níveis da análise linguística. Nesse sentido, cada capítulo do livro pode ser trabalhado em dois encontros e fornecer aos alunos uma primeira aproximação a cada área e domínio de análise linguística. O professor poderá seguir o sumário, tal como está, ou seguir a ordem que sugerimos acima, de caráter teórico-conceitual – ou uma ordem própria. Cada capítulo está preparado para ser usado tanto de forma autônoma como para dialogar com os demais. Essa maneira de trabalhar com este volume poderá ser enriquecida se articulada às cuidadosas apresentações feitas no primeiro volume desta coleção acerca dos sistemas conceituais (linguística saussuriana, linguística distribucional, linguística gerativa e sociolinguística), bem como às noções gerais presentes no segundo volume da coleção, que certamente subsidiarão a leitura dos capítulos aqui propostos;

(ii) transversalmente, em disciplinas mais avançadas dos cursos de Letras e Linguística. Nesse sentido, cada capítulo (ou conjunto de capítulos) pode servir como “a primeira leitura” do curso. O curso pode seguir os caminhos que começaram a ser pavimentados nessa primeira leitura, desenvolvendo-os. Aqui o professor também pode se guiar por uma ordem teórico-conceitual. Por exemplo, em uma disciplina que aborde os sons da fala, o professor pode propor a leitura dos capítulos de Fonologia, Fonética e Prosódia e expandir os conteúdos tratados nesses capítulos ao longo do semestre, com as noções apresentadas nos volumes anteriores. Em uma disciplina que aborde a estrutura da palavra e da frase, o professor pode utilizar os capítulos “Léxico”, “Morfologia”, “Sintaxe” e “Semântica”, aqui presentes, como leituras iniciais e partir nas direções apontadas nesses textos para dar continuidade à disciplina, sempre atento ao que se coloca a respeito dessas áreas no segundo volume (por exemplo, nos capítulos intitulados “Morfologia”, “Semântica”, “Sintaxe” etc.) e aos fundamentos do grande campo da linguística apresentados em Conceitos básicos de linguística: sistemas conceituais. O mesmo gesto teórico-metodológico pode ser feito em uma disciplina que enfoque a construção mais ampla do significado e da análise linguística; ou seja, o professor pode usar os capítulos “Semântica”, “Pragmática”, “Texto”, “Enunciação” e “Discurso”, aqui presentes, valendo-se de conceitos abordados no segundo volume (por exemplo, “Enunciação”, “Pragmática”, “Discurso” etc.). As opções são muitas e variadas, e os capítulos apresentados aqui são concisos, mas consistentes. Além disso, todos eles apontam caminhos a serem seguidos a partir de sua leitura e trazem, na última seção, um roteiro sugerido de próximas leituras – a maioria delas em português, pensando no desenvolvimento da área no cenário nacional;

(iii) finalmente, pensamos que o aluno pode usar este livro para leitura propedêutica em seus estudos individuais – ou em grupos de estudos com colegas –, aliado aos dois volumes que o precedem. Os textos foram escritos pensando nos alunos como público-alvo preferencial. Nesse sentido, são textos claros e com teor marcadamente didático. Todos os autores fizeram questão de apresentar definições claras e teoricamente amparadas, exemplos e sugestões de leituras para que os alunos possam se aprofundar após o estudo do livro.

Enfim, para que a publicação deste volume se tornasse realidade, devemos agradecer às nossas parcerias neste projeto. Primeiramente aos autores dos capítulos, que “compraram a ideia” de escrever textos introdutórios. Foram muitas versões de cada capítulo, muitas idas e vindas entre a versão inicial e a versão final de cada texto. Agradecemos a paciência e a interlocução constante de todos. Além disso, devemos agradecer aos leitores das primeiras versões dos capítulos, que apontavam passagens obscuras, trechos de difícil compreensão, locais onde um exemplo ou outro cairia bem, alguma eventual inconsistência teórica etc. Graças a esses leitores, pudemos preparar um livro mais acessível ao público final, a saber: os alunos de graduação dos cursos de Letras e Linguística do país.

Por fim, gostaríamos de manifestar publicamente nossa alegria em concluir o projeto de publicação dos três volumes de nossos Conceitos básicos de linguística, iniciado há bastante tempo. Como diz Roland Barthes em sua aula inaugural no Collège de France, a alegria é melhor do que a honra; “pois a honra pode ser imerecida, a alegria nunca o é”. Ora, a alegria em ver publicados os três volumes dos nossos Conceitos básicos de linguística também nos enche de felicidade e esperança. Felicidade em compartilhar com nossos leitores um caminho de estudos e pesquisas; esperança em contribuir, mesmo que minimamente, com a ampliação da discussão em torno da linguagem humana entre nós, no Brasil.

Este projeto tornou-se possível porque fomos guiados simultaneamente pelo rigor no tratamento da reflexão teórica (é o nosso apreço pela ciência), pelo respeito à diversidade da abordagem científica (é o nosso apreço pelas diferenças), pela convicção de que a linguagem humana é linda (é o nosso apreço pelo belo) e pela admiração recíproca que os autores desta coleção têm entre si (é o nosso apreço pela amizade).

Conceitos básicos de linguística: níveis de análise

Este livro conclui um projeto que testemunha um périplo pessoal e profissional, guiado pela ética do saber e do saber conviver. O poeta Manuel de Barros, no Livro sobre nada, dá a exata formulação: “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos”. Que a nossa exposição sobre a ciência linguística permita ao leitor ver melhor o encanto da linguagem. É nosso desejo!

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