“É preciso denunciar de que é capaz uma ditadura militar e que são eles os verdadeiros terroristas. É preciso acabar com o silêncio e a acomodação que sepulta no esquecimento e exclui da memória nacional toda a bárbara tortura por que todos nós passamos. A Nação deve ter inteira consciência do que foi essa ditadura que espalhou o terror entre todos nós brasileiros.”
– Egle Maria Vannucchi Leme, mãe de Alexandre, em julho de 1979.
Não sou historiador nem jornalista, mas o que me proponho a apresentar são fatos históricos que a mídia nacional e internacional registrou, vazados aqui em linguagem franca, repassada com a natural afetuosidade de um coração ferido pelo assassinato do jovem Alexandre Vannucchi Leme, mas sem recalque e sem desforra. O que se aponta aqui não é revanchismo, mas reparação histórica, em nome da justiça e da verdade.es
Como tio de Alexandre, revivê-lo nestas páginas, quarenta anos depois de seu martírio, será um exercício de respeito e de dor, para encadear, com fidelidade, os laços preciosos de uma inapagável lembrança com os traços objetivos de uma história de páginas chocantes, que ainda não foram e nunca serão totalmente assimiladas.
Assumi essa penosa tarefa porque considero os eventuais leitores agentes históricos capazes de analisar os anos passados de arbítrio e repressão, violentados por 17 Atos Institucionais, na Ditadura de 1964 a 1985, e de pensar e desenvolver um país em que se respeitem as diferentes opções políticas e ideológicas, à luz da justiça e num clima de paz. Para que não se esqueça aquele tempo de trevas. Para que nunca mais aconteça o que nunca deveria ter acontecido.
No Brasil de hoje, em pleno estado de direito, é dever patriótico e motivo de orgulho evocar, no panteão da pátria, o estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme, que, na companhia de tantos outros idealistas, deu a vida pela democracia e pela liberdade.
Imolado por esse ideal, sua morte prenunciou a aurora de um novo tempo para o Brasil. Lembrá-lo é recuperar o passado para criar o novo. É devolvê-lo à memória da sociedade brasileira, tão carente de amadurecimento político. É o irrefragável direito à verdade.
Essa é a introdução do livro Alexandre Vannucchi Leme, de Aldo Vannucchi.