QUANDO A ECONOMIA E A POLÍTICA de um país se revelam as principais causadoras da pobreza, devido à falta de condições de gerar o próprio sustento com dignidade, urge que se inicie uma luta pela causa da justiça ultrajada. O comportamento é natural. Porque, acima de tudo, é da nossa natureza a busca por uma condição de vida melhor. Somos naturalmente movidos nessa direção, que contrasta radicalmente com o cenário que nos é oferecido hoje. Afinal, nascemos contaminados pelo Paraíso, e não vamos descansar enquanto não estivermos mergulhados nessa experiência ancestral.
Ferreira Gullar, o poeta, traduziu essa busca ao afirmar que “O anseio de justiça é inerente ao ser humano, que vai lutar por ela independente se o rótulo é comunismo, socialismo ou qual possa ser”. De um jeito ou de outro, estamos sempre envolvidos com o projeto de dissolver os obstáculos que impedem a nossa chegada ao objetivo maior. Nesse caso, o uso da comunicação, sobretudo das redes sociais, se revela uma decisão estratégica. Abrir mão desse recurso equivale a incorrer em grave irresponsabilidade.
Se, por um lado, sou daqueles que acreditam no princípio que defende a arte pela arte, sem atribuir-lhe um papel claramente político, por outro, estou convencido de que, em meio à nossa maior crise, os escritores têm o seu papel de conscientizar, mais do que apenas entreter. Estar engajado significa comprometer-se com a situação social e política, com vistas a uma transformação. Se puder, por meio da sua palavra, o escritor deve provocar rachaduras e o derretimento do sistema, que coloca em risco a sobrevivência biológica de tanta gente bafejada por ventos venezuelanos, para que ela desmorone definitivamente.
No entanto, esse não é um projeto água com açúcar, brincadeira que se exerce como passatempo e sem qualquer compromisso de atingir metas específicas. Ele requer nervos de aço, muito envolvimento e atitude transformadora, porque sem ela o esforço fica pela metade. Repetindo, fomos projetados para viver a verdadeira realização, e nisso está o fundamento da nossa liberdade, como disse o filósofo John Locke.
Essa viagem, impulsionada pelos objetivos que determinamos ao longo do caminho, começa em casa, nas relações domésticas, onde se dá a primeira experiência política, e continua na escola, espaço em que os conceitos e práticas são aprofundados, com o apoio da imensa bibliografia hoje disponível. Nasce da revisão de valores e do ensaio de passos para a criação de uma consciência cidadã e criativa, a mesma que será necessária para estudar a realidade, julgar os seus aspectos mais contundentes e agir de maneira capaz de desenhar um novo cenário, no qual o ser humano apareça como figura central.
Mas convém lembrar que esse conhecimento, se estiver divorciado da justiça, ficará restrito a um inconsequente jogo de astúcia, que equivale a receber o mal e calar, para dar o golpe na melhor oportunidade, o que é muito inferior à prática da sabedoria que gera mudança.
RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista e Escrita criativa. Da ideia ao texto. [email protected] — http://rubensmarchioni.wordpress.com