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A fidelidade e seus desafios | Rubens Marchioni

Segundo especialistas, A fidelidade é uma das competências sociais.

Um dos seus traços é a autenticidade – pessoas fiéis tendem a ser mais autênticas, sem que para isso precisem fazer qualquer esforço. Nelas, a espontaneidade se revela muito livremente. O que as torna sempre mais transparentes em todas as palavras e ações. De saída, elas se mostram mais confiáveis.  

Mas como aprimorar tudo isso? Aqui vale, por exemplo, pedir ajuda ao autoconhecimento. Quanto mais você conhecer a própria natureza, melhor vai trafegar pelo terreno da fidelidade. Sem precisar se esconder, quem sabe mais de si mesmo domina com segurança os instintos que o colocaria para sempre fora dessa prática, com consequências às vezes irremediáveis. Basta pensar em quantos projetos pessoais, profissionais e políticos são sacrificados quando ela é desrespeitada. 

Uma das formas de se proteger desse risco é manter vivas as palavras de Machado de Assis, quando adverte para o fato de que, em determinada circunstância, “A fidelidade aos amigos era antes resultado do costume que da consistência dos afetos.” E convém destacar que a advertência de Machado não diz respeito apenas aos amigos. O que lança, automaticamente, um questionamento por vezes difícil: ser fiel pelo que isso representa para o outro ou apenas porque essa prática nos livra de eventuais aborrecimentos? Fidelidade exercida por amor e respeito ou somente como estratégia para evitar situações desagradáveis? Ou, fidelidade apenas por falta de oportunidade ou fruto de uma escolha consciente?

Como se pode ver, o exercício da fidelidade pede aprimoramento diário – não estamos diante de uma obra acabada. No mínimo, porque ela não existe em si e para si mesma, e isso pode criar armadilhas perigosas. O primeiro passo, nesse caso, tem a ver com aceitar as próprias deficiências. Sempre com o cuidado de antecipar os erros possíveis para evitá-los de maneira mais eficiente. 

Ao mesmo tempo, e mais do que simplesmente evitar erros, a bondade, fruto e uma das marcas da fidelidade, nasce do exercício da cidadania, no seu sentido mais amplo, o que exige atitude e um caráter sólido para a sua prática. Ser fiel passa pelo cuidado com o bem-estar do outro, individual ou coletivamente – é uma atitude política. Não é legalismo apenas, é presença de amor, que vai além do que é exigido, sem pedir nada em troca.

Quando isso acontece, todos se beneficiam. Por exemplo, pessoas fiéis têm mais facilidade para estabelecer conexões. Elas são mais assertivas e praticam uma comunicação compatível com as necessidades do seu público-alvo, seja uma pessoa ou um grupo. Consequência disso, a fidelidade aprimora a qualidade dos relacionamentos em todos os níveis. É assim que essa competência social atinge o seu grau máximo de realização.


Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]