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A alegria é uma obra a ser construída
A alegria é uma obra a ser construída

A alegria é uma obra a ser construída | Rubens Marchioni

As pessoas querem conquistar a alegria a qualquer custo. Até a alegria de ser alegre conta nessa luta que só aceita como resposta as palavras vitória e resultado. Mas o pacifista indiano Mahatma Gandhi adverte para o fato de que “A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita.” Para o clérigo francês Gaston Courtois, “A alegria adquire-se. É uma atitude de coragem. Ser alegre não é fácil, é um ato de vontade.” Nisso, o hindu e o cristão professam a mesma crença. Celebram um ato ecumênico não combinado, mas que combina na forma e no conteúdo. A alegria, como fica comprovado, é uma obra a ser construída.

Ainda assim, vitória e resultado continuam sendo os nossos mantras, a nossa lei maior. E é para esses deuses que rezamos todos os dias. A eles pedimos que venham em nosso auxílio. E que, na bagagem, incluam um pedacinho do céu, capaz de neutralizar as nossas misérias, as causas das pequenas e grandes tristezas, com uma penca de boas razões para celebrar uma vida feliz.

Mas, perigo à vista, alegria tem tudo a ver com a experiência de liberdade – uma coisa supõe a outra. Afinal, precisamos ser livres para comprar o que desejamos. Assim como, livremente, queremos mergulhar de cabeça em relacionamentos que por vezes nos aprisionem numa liberdade insana. E não abrimos mão de inventar os próprios deuses e adorar divindades como o celular, apenas para citar um exemplo dos muitos bezerros de ouro a que servimos. É a nossa ambição positiva, e ela nos leva a assumir riscos mais ou menos calculados.

Dentre eles, e se precisar, inventamos a verba para celebrar a vida que não pode ir embora, mas sabe que é livre para decidir o seu epílogo e nos decretar um final às vezes melancólico.

No entanto, nossa existência não foi projetada para viver imersa no paradigma da tristeza suportada. Afinal, temos os recursos necessários para negar essa realidade. Isso, naturalmente, pede rebeldia, inconformismo. Pede construção. Porque ainda não inventaram outro jeito de redesenhar, construir de novo e tomar posse de uma terra que sempre é prometida a quem se dispõe a caminhar, vencer o deserto e experimentar as delícias garantidas por esse projeto. Como nas grandes obras, dá trabalho. Mas compensa todo esforço envolvido.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected]  — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao