Nos últimos anos, o papel do professor experimentou uma sensível transformação. Ele foi retirado da condição confortável de senhor absoluto da verdade. Já não dispõe da última palavra. Para muitos, esse novo cenário pode soar desconfortável. Mas aceitá-lo sugere uma postura inteligente, digna daquele que ocupa o título de mestre, especialista em aprender. Quem não aceita rever os próprios conceitos tem muito pouco, ou quase nada, para oferecer às pessoas. Mais do que isso, é preciso se adequar com alegria, certo de que isso vai beneficiar a sua comunidade e provocar uma sensação extraordinária de recompensa pelo serviço prestado. O esforço pesa? É certo que sim. Mas a grandeza de um espírito altruísta encobre esse efeito, porque no lugar da autopiedade, valoriza primeiramente a oportunidade de contribuir com o crescimento da sua comunidade.
Como já disse antes, hoje se verifica um padrão mais elevado de exigência em relação ao aluno. A demanda é por habilidades cognitivas mais complexas do que aquelas que eram tidas como suficientes até bem pouco tempo. Assim, agora o educador tem sob sua responsabilidade algumas tarefas. Entre elas, ele deve saber selecionar estratégias e recursos de aprendizagem mais adequados para que o aluno alcance os resultados esperados. Isso inclui a criação de espaços de aprendizagem e de atividades. Além de desempenhar o papel de mediador, ativador, articulador, orientador e especialista da aprendizagem.
Tudo isso, naturalmente, clama por uma nova postura por parte do professor. Ela exige novos conhecimentos, habilidades e atitudes. Sem uma bagagem nova, ele continuará sendo mero repetidor de antigas verdades, envelhecidas pelo tempo. Sem a capacidade de transformar os novos conceitos em serviços que beneficiem os alunos, ele será apenas o depositário de ideias modernas, que pouco a pouco vão se deteriorar. E sem a devida atitude para tudo isso, de pouco adiantará o novo professor. Nesse sentido, convém lembrar a advertência do humorista americano Evan Esar: “Não podemos fazer muito sobre a extensão de nossas vidas, mas podemos fazer muito sobre a largura e a profundidade delas.”
Aqui se revela a importância de uma força motora: munir-se de inspiração e de desejo, misturados, com a certeza de que toda a operação resultará em êxito visível. Claro, porque hoje isso se encontra distante de ser uma realidade. Os resultados, nesse caso, podem ser catastróficos. Eles falam de professores sem clareza do seu papel. Retratam alunos circulando por uma escola obscura nos seus objetivos. E de uma sociedade perdendo qualidade nos aspectos de cidadania e profissionalismo, apenas para citar dois exemplos significativos. Isso, se nada for feito para reverter o quadro. Mas não precisa ser assim. Você e eu sabemos disso.
Sucesso? Lembra-se dos noventa e nove por cento de transpiração e mais um por cento de inspiração, fórmula elaborada pelo gênio Thomas Alva Edison? Mantendo o mesmo tom, Charles Pierre Baudelaire adverte: “A inspiração nasce do trabalho diário.” O êxito resulta, portanto, da persistência que por vezes irrita os menos comprometidos com a causa.
No final de todo o processo deve surgir uma gostosa experiência de emoção – ela atesta que o esforço envolvido naquele projeto valeu a pena, em cada minuto envolvido, física e emocionalmente. Einstein lembra que o mistério da vida lhe causa a mais forte emoção. Para ele, esse é o sentimento “que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência.” E conclui, taxativo, lembrando que “Se alguém não conhece essa sensação ou não pode mais exprimir espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram.”
Se for assim, é impossível pensar em qualquer coisa que remeta à ideia de autopiedade. Ninguém, nenhum professor, chorando até ficar com pena de si próprio, como cantou Chico Buarque. Ela é um entrave a todo progresso espiritual. Se algo, na caminhada, não saiu a contento, pediu ajustes, que venha a capacidade de resiliência. De se levantar. Se refazer. Reconstruir. Retomar a estrada.
O professor que hoje ensina, ensina como não se ensinava antes. Porque a sociedade mudou. Mas a importância do seu papel, como prestador de serviço, continua inalterada. O profissional que ensina todas as demais profissões é indispensável agora como no passado. O quanto possível, numa edição revista e ampliada.
RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista e Escrita criativa. Da ideia ao texto. [email protected] — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao