Não me espantou quando, no ano de 2022, os ingressantes no curso de História da Unicamp pediram que a graduação incluísse… História da Ásia. A disciplina de História Antiga inclui, claro, o Oriente Antigo, mas não há, no departamento, especialistas nas sociedades do subcontinente indiano ou o Extremo-Oriente. O interesse era, também, pelos períodos mais recentes, para a História Contemporânea dessa Ásia que vai da Índia ao Japão. Disse-lhes que o tema é mesmo da maior relevância – mas que faltava literatura introdutória recente e em português, faltava! Fernando Pureza, professor da UFPB, acaba de publicar bem o que faltava: um volume introdutório, breve, objetivo, de fácil compreensão, para que se possa entender como a Ásia, tão importante hoje, está em relação a um passado recente complexo e cheio de significados nem sempre evidentes. Para isso, o livro História da Ásia, que integra a Coleção História na Universidade da Editora Contexto, fornece uma entrada perfeita.
A estrutura do livro procura privilegiar a visão do todo, da floresta, para permitir que qualquer um possa entender como, hoje, Índia e China são os países mais populosos do mundo e como, no conjunto, toda a região tenha posição de destaque em termos econômicos. Isso se deve, em particular, à trajetória recente, desde o século XVIII, daí o motivo por que o volume se concentra nesse período. Mas, antes, começa por explicar o motivo de se estudar a Ásia, tanto para superar um antiquado eurocentrismo, como para entender a posição central dos imperialismos nessa História. Destacam-se as três grandes potências asiáticas atuais: Índia, China e Japão, sem deixar de mencionar outros povos e culturas. O livro busca incluir, além dessas grandes culturas e sociedades, temas como as ideias revolucionárias, liberalismos, nacionalismos, socialismos, anarquismos e feminismos. As mulheres, em particular, merecem menções reiteradas, tanto sua (in)desejada submissão como seu efetivo protagonismo. Isso aparece também nos boxes e nas figuras, impressionantes, com na figura de uma xilogravura de Taiso Yoshitoshi (p. 63), com imagem de mulher guerreira e outra com uma criança.
O livro aborda tanto os milênios de História da Ásia, como, em particular, os efeitos do capitalismo e da modernidade. Em cada caso, aparece o passado milenar, como as castas indianas, mas enfatiza-se o impacto do capitalismo e dos imperialismos, as forças emergentes e tão importantes no presente. O capítulo sobre as ideias revolucionárias, sobre liberalismos, nacionalismos, socialismos, anarquismos e feminismos mostra como cada momento oferece oportunidades de linhas de fuga para outras possibilidades e perspectivas. Somente isso já vale a leitura do livro! Mas tem mais. Chegamos ao presente e entendemos os desafios atuais e a oportunidades. A História recente da Ásia permite compreender como ela está no centro da nossa época. Este livro oferece uma abertura única, em nosso idioma, para todos e, em particular, para estudantes de História, para adentrar à História da Ásia. Agradecemos a Fernando Pureza por este regalo.
Pedro Paulo Funari é professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade de São Paulo (USP), além de pesquisador associado de universidades do Brasil e do exterior. Pela Contexto, é autor de Grécia e Roma, Arqueologia, Pré-história do Brasil; coautor de A temática indígena na escola, História na sala de aula, História da cidadania, História das guerras, Fontes históricas e Novos combates pela História; e organizador das obras As religiões que o mundo esqueceu e Turismo e patrimônio cultural.