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Três perguntas para… Ataliba T. de Castilho

Professor titular da USP, tendo atuado também na Unicamp e na Unesp, Ataliba T. de Castilho é autor do livro Pequena Gramática do Português Brasileiro, lançado pela Editora Contexto e que possui um viés prático, com exemplos cotidianos da língua falada encontrados em jornais, revistas, anúncios e internet, ensinando as regras tradicionais numa linguagem mais próxima dos estudantes. Linguista e autor de vários livros e dezenas de artigos publicados em revistas científicas no Brasil e no exterior, Ataliba foi professor visitante na University of Texas at Austin e pesquisador de pós-doutorado na Cornell University (Estados Unidos), na Université d’Aix-Marseille (França) e na Università degli Studi di Padova (Itália). Dirigiu projetos como o Nurc e o Gramática do Português Falado e presidiu a Associação Brasileira de Linguística e o Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo. O professor falou com o blog sobre a atual situação do ensino de português no país:

 

1) As recentes mudanças na ortografia afetaram o ensino de língua portuguesa nas escolas? Atualmente, quais são os maiores problemas no ensino do português?

O objetivo das escolas é ensinar a forma escrita da língua, selecionando o padrão culto, pois esta é a língua do Estado. A ortografia, fixada por meio de um decreto, integra as obrigações de nossas escolas, de sorte que sim, a ortografia afeta o ensino da língua nas escolas.

São muitos os problemas no ensino do português: baixo nível salarial dos professores, o que afasta os candidatos a essa profissão; deficientes cursos de atualização, apesar dos esforços do estado nessa direção; dificuldades no tratamento do novo alunado, procedente das classes não escolarizadas do país, embora os Parâmetros Curriculares tenham chamado a atenção para a necessária mudança da rotina dos cursos.

 

2) O português é uma língua viva, que muda constantemente. Os maneirismos, regionalismos, gírias e outros vícios de linguagem, que são considerados como uma variedade popular, podem vir a ser aceitos como norma culta num futuro próximo?

Regionalismos, gírias e modalidades de português não padrão ocorrem com absoluta naturalidade em qualquer língua natural. Essas manifestações devem ser incorporadas às aulas, sob a forma de debates, ao longo dos quais elas são comparadas às alternativas da língua culta. É importante conviver com naturalidade com as variedades não padrão, sem esquecer que o objetivo da escola é trazer os alunos para a língua do Estado. Não devemos nos esquecer que as línguas derivam de variedades populares. O português, por exemplo, deriva do latim vulgar, trazido para a Península Ibérica por soldados e comerciantes. Mudado para o português, surge com o tempo a variedade culta, cindindo-se a língua em dois estratos. O que é popular hoje, poderá ser culto amanhã. Esta convicção científica, entretanto, não nos deve isentar do esforço de integrar as classes até aqui não escolarizadas na fala mais prestigiada das classes cultas. Se tratarmos com naturalidade essa característica das línguas, será mais suave a incorporação do padrão culto, sem desprezar a variedade familiar do aluno. Ele se transformará num bilíngue da própria língua, sabendo qual variedade utilizar nas diferentes situações de fala.

 

3) Muitos alunos saem das inúmeras unidades de ensino do Brasil para as universidades e o mercado de trabalho com dificuldades de escrever e falar a norma culta. Como a Pequena Gramática do Português Brasileiro auxilia nesse sentido?

Há uma dificuldade atual, referida na resposta à questão 1, de lidar com alunos egressos das classes populares. Não temos tido resultados no ensino da norma culta. Acredito que precisamos oferecer novas respostas a esses problemas. As estratégias oferecidas até aqui não têm funcionado, porque nossos alunos não procedem mais dessa classe. Este é um bom problema, pois deriva da extensão das escolas a todas as camadas que organizam a sociedade brasileira. Tendo-se alterado a clientela escolar, as estratégias de ensino precisam igualmente alterar-se. Na Pequena Gramática do Português Brasileiro, procuro dar uma resposta a este problema via problematização das questões, suscitando a curiosidade dos alunos por sua solução.

Esta posição inverte nossas práticas escolares, pois agora o professor deixará de dar respostas a perguntas que os alunos não formularam, associando-se a eles na busca das soluções, em sua qualidade de pessoa mais experimentada. As aulas se transformam, assim, em momentos de indagação, de pesquisa. Acredito que esse desafio poderá motivar alunos e professores, apesar das dificuldades que todos conhecemos. Envolvendo os alunos nas atividades escolares, devidamente planejadas, eles poderão dominar espontaneamente o padrão culto.

 

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