Com toda a mídia controlada pelo governo ditatorial, país caribenho descobre possibilidades de interação a partir da tecnologia 3G, diz blogueira
Os smartphones chegaram a Cuba e, com eles, a possibilidade de conhecer fatos do país não noticiados pela imprensa oficial. A informação foi relatada pela cubana Yoani Sánchez em seu blog Generación Y, que lhe rendeu em 2008 a classificação entre as 100 pessoas mais importantes do mundo pela revista Time. Perseguida pelo governo local, ela escreve clandestinamente de Havana e sua página é proibida para nativos.
“O mesmo mercado que nos tem abastecido de leite em pó e detergente agora oferece conexões ilegais à internet”, escreveu Yoani. “A quantidade de informações quintuplicou, ainda que isso não se deva a uma decisão governamental de nos abastecer de melhores informações, e sim ao desenvolvimento tecnológico, que nos permitiu saltar os cintilantes triunfalistas e os noticiários vazios de conteúdo”, afirmou, em referência aos governantes da ilha, que se autodenominam “triunfalistas” pela vitória na Revolução Cubana em 1959.
Graças às redes oferecidas em hotéis e centros comerciais voltados para turistas, já era possível acessar a web. Com as antenas parabólicas clandestinas escondidas em falsas caixas d’água, os sinais de TV, rádio e de tecnologia 3G de outros países são disponibilizados a quem consegue adquirir um smartphone no mercado negro e programá-lo.
Segundo a blogueira, com os celulares inteligentes é possível saber o que acontece de negativo em Cuba “dias” ou “várias semanas” antes que algum meio de comunicação decida noticiá-lo. Os boatos que correm de boca em boca começam a se tornar dados precisos transmitidos em tempo real. Por causa disso, muitos cubanos não assistem mais aos canais de TV, todos estatais, e preferem o que a autora do post chama de “televisão exilada”, transmitida pelos aparelhos contrabandeados.
“A tela de um Nokia ou um Motorola, a superfície brilhante de um CD ou o minúsculo corpinho de uma memória flash acabam com nossa desinformação”, concluiu Yoani Sanchéz. Formada em Linguística, ela mantém o Generación Y desde abril de 2007. Para alimentar o blog, anotava os posts num caderno para depois publicá-los na internet. Em maio do ano passado, conseguiu “criar” um laptop a partir de dispositivos comprados no mercado paralelo. Segundo informações oficiais, 2% da população cubana tem acesso à web.
(via Época Noegócios)