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Territórios do Letramento | Guilherme Brambila

O termo “letramento” tem estado presente em diversos ambientes, dos acadêmicos aos mais cotidianos. Não é incomum nos depararmos com o uso corriqueiro desse vocábulo para tratar do grau de clareza que um indivíduo tem ou adquire sobre suas práticas individuais e coletivas, seus discursos e suas tomadas de decisão diante de temas pungentes da vida social, como questões de gênero, étnico-raciais, da cultura digital, da política etc.

Esse uso cada vez mais abrangente pode provocar, por um esvaziamento incidental, a pulverização do que o letramento e seus consequentes campos de investigação têm, de fato, a contribuir com os estudos da linguagem e com a sociedade de maneira geral, que usufrui do conhecimento cientificamente validado para lidar de forma autônoma com problemáticas típicas da existência humana, com os desafios do ensino-aprendizagem e com outras tramas nas quais a linguagem está envolvida.

Diante disso, Territórios do letramento foi pensada como uma obra que visa indicar alguns endereçamentos caros aos estudos do letramento, ao evocar fontes teóricas que o distinguem de outras disciplinas da Linguística, bem como as interseções possíveis ao seu plano de trabalho. É também objetivo evidenciar as contribuições do letramento à ciência da linguagem contemporânea e às práticas sociais que se manifestam nos usos diversos e sociais da língua, concretizados na própria interação humana, na formação profissional, na capacitação docente e em sua apropriação como objeto de ensino.

Territórios do Letramento | Guilherme Brambila
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Partimos de uma compreensão global de que letramento é o desenvolvimento de habilidades que possibilitam ler, escrever e fazer usos socialmente situados da linguagem (em suas múltiplas possibilidades semióticas e materialidades) em diversas esferas de atividade humana, estejam elas localizadas no âmbito privado, familiar, escolar, acadêmico, profissional, digital etc. Em todos esses contextos, haverá a necessidade de se estabelecer práticas autônomas e emancipadas com textos e gêneros, os quais se materializam em diversos suportes tecnológicos e sob diferentes objetivos interacionais.

Ao mesmo tempo, essa ideia-chave não deve causar uma falsa percepção de pacificação ou, até mesmo, de morbidez sobre o que são e o que podem os estudos do letramento na contemporaneidade. Essas investigações têm arborescido uma série de focalizações que se fazem pertinentes no âmbito da pesquisa com linguagem. Já são diversos os campos em que o letramento tem identificado demanda de trabalho, percebida principalmente quando sujeitos deixam de negociar sentidos democraticamente, pelo desconhecimento de gêneros e práticas letradas que os permitiriam interações humanas e institucionais mais horizontais. É na proposição de enfrentamento a essa lacuna que têm se fortalecido ramos do letramento de contribuição inconteste, como o letramento acadêmico, o letramento digital, o letramento visual, o letramento crítico, dentre outros.

Por essa razão, este livro reúne, além de alguns desses campos e diálogos com os quais os estudos do letramento têm produzido conhecimento, diversas provocações, experiências de pesquisa e atualizações que, certamente, serão excelentes norteadores ao estudo de pesquisadores em Linguística que tenham como interesse a Linguística Aplicada, os estudos textuais-discursivos, semióticos e da tradução, bem como as tecnologias digitais e da comunicação. Pensando, ainda, na relação entre a experiência científica validada com as diversas práticas de linguagem na vida social, há o desejo de que os esforços aqui reunidos alcancem outros contextos caros ao trabalho com a linguagem, como a formação continuada do professor de língua materna ou adicional.

Os autores que assinam os capítulos desta obra são detentores de uma produção consistente e altamente contributiva aos estudos do letramento – e da linguagem como um todo –, sendo corresponsáveis pela consolidação do campo nacional e globalmente. Seus textos ousam em esclarecer e apontar caminhos teóricos e aplicados para uma percepção atualizada e contextual dos estudos do letramento, não apenas como elemento da práxis acadêmica, mas como força para lidar com os diversos desafios da vida imersos e constituídos de linguagem, explorando tendências investigativas que se mostram latentes no mundo contemporâneo.

Territórios do Letramento | Guilherme Brambila

Na expectativa de aguçar a necessária curiosidade sobre essa área de estudos tão instigante, importa a questão: quais são os territórios do letramento? As propostas aqui apresentadas – apesar de não se comprometerem com uma resposta fechada ou com verdades absolutas, estando embasadas em aportes teóricos afins ao seu escopo de investigação – fornecem subsídios e atualizações pertinentes para o entendimento de bases claras que fortalecem essa pergunta, provocando o leitor a posicioná-la como fonte de reconhecimento a um campo de trabalho apto ao diálogo, às interfaces teórico-analíticas e, sobretudo, à promoção de uma cidadania que se forma juntamente aos usos sociais da linguagem.


Guilherme Brambila é professor de Linguística e Língua Portuguesa na Universidade Estadual do Ceará. Doutor em Linguística pelo programa de pós-graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGEL-Ufes), mestre em Linguística pelo programa de pós-graduação da mesma universidade e licenciado em Letras – Língua Portuguesa pela mesma instituição. É membro do Grupo de Pesquisa Texto, Hipertexto e Ensino de Língua Portuguesa (THELPO), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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