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Professor e aluno
Professor e aluno

Talvez você não saiba, mas está pagando a conta do outro | Rubens Marchioni

Escrita CriativaESTA CENA ESTAVA guardada em minha memória, já nem me lembro do motivo. Na sala de aula, acontece um diálogo intrigante entre professor e aluno: “Na verdade, eu dou aula para seis ou sete pessoas, aqui. São os 10% dos alunos que se empenham e por isso conseguirão entrar no mercado de trabalho.” O barulho foi quebrado e virou fumaça: “Professor, se o senhor dá aula só para seis ou sete alunos, por que a escola aceita a matrícula dos outros 63?” A resposta, pontiaguda, estava pronta e queria atingir o seu alvo principal: “Porque alguém precisa bancar essa meia dúzia que vai chegar lá. Entendeu?” E mais não disseram. Corta.

O que brilha com luz própria, nada pode apagar. – Pablo Milanés

Não raro, a escola é o primeiro estágio da estagnação. O sintoma aparece quando o máximo que o aluno pretende é uma sofrível média para passar de ano. Mau sinal. Porque o caminho mais curto para se chegar a exatamente lugar nenhum é sair sem destino, sem tesão e sem propósito. Contrário a isso, a carreira brilhante do jornalista Joelmir Beting, por exemplo, começou na apresentação de um corriqueiro trabalho acadêmico de conclusão de curso.

Naquele dia, Joelmir saiu do anfiteatro levando nas mãos um convite promissor para um emprego idem. Na empresa, repetiu a performance. Ganhou mais espaço e notoriedade. Transformou-se em referência. Globo, Estadão, Agência Estado e palestras concorridas, tudo foi mera consequência. Porque fez na escola, como se estivesse na empresa, bombou.

Alguém que nasceu com uma estrela na testa? Ao contrário. Sua história começa, sem brilho, no interior de São Paulo, mais precisamente em Tambaú, a terra natal. Em seu currículo, a experiência de ser boia fria e lutar contra uma gagueira da qual demorou em se livrar. A universidade foi a plataforma que o projetou para o sucesso, não por acaso, mas devido ao envolvimento pessoal com esse projeto. Ele fazia parte dos 10% que encontrariam um espaço no mercado de trabalho. Para os demais, ficou a tarefa insalubre de pagar a conta e não levar. Afinal, quem se contenta com a média está fadado a obter resultados apenas medíocres – uma expressão sugere a outra.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Autor de Criatividade e redação, A conquista e Escrita criativa. Da ideia ao texto. [email protected]http://rubensmarchioni.wordpress.com