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Saussure e a Escola de Genebra

Este livro surgiu como uma resposta à vontade que tínhamos em incluir, de maneira mais enfática, a noção de “Escola” no âmbito acadêmico da linguística no Brasil. A ideia principal foi organizar uma obra que aborda a linguística do ponto de vista das “Escolas linguísticas” – no caso específico deste livro, da “Escola de Genebra”, para, a partir disso, inaugurar uma discussão ainda incipiente no contexto disciplinar da linguística brasileira.

Com os textos que reunimos neste livro, quisemos, por um lado, avaliar em que medida o “rótulo” “Escola de Genebra” designa um programa unitário de pesquisas e quais efeitos ele produziu; por outro lado, procuramos contribuir, mesmo que minimamente, com a configuração epistemológica da linguística geral no Brasil, ao explicitar os termos pelos quais pode se dar um estudo que evoque a noção de “Escola”.

Não é nada fácil delimitar e definir o sentido da expressão “Escola linguística”. Não raras vezes, nós a encontramos utilizada – em conjunção ou em disjunção – junto a outras expressões, também muito presentes na linguística, com as quais, em alguma medida, se confunde: são os “círculos linguísticos”, as “sociedades linguísticas”, as “correntes do pensamento linguístico” etc.

Saussure e a Escola de Genebra

Leia um trecho do livro em nosso site

Sabemos bem. Há muitas denominações e determinações: a “Escola dos formalistas russos” (cuja determinação se dá em função da teoria), a “Escola francesa de análise do discurso” (em função da nacionalidade e da teoria), a “Escola de Genebra”, “de Cambridge”, “de Yale”, “de Moscou”, “de Chicago”, “de Paris” (em função de um lugar), a “Escola de Tártu-Moscou” (em função de uma instituição e de um lugar). A lista poderia ser consideravelmente maior.

Essas denominações e suas determinações facilmente colocam à mostra que narrar a história recente das ciências da linguagem implica delinear as condições de instauração e de mudança do pensamento desenvolvido no interior dessas ciências, o que não pode ser feito sem que se identifique o papel que esses “grupos” – para usar uma expressão genérica – têm na configuração epistemológica e institucional do campo e no conjunto das ciências (sociais, humanas, biológicas etc.) do qual fazem parte. Por isso, uma “Escola linguística” também pode ser vista como uma “Escola de pensamento”.

A “Escola de Genebra”, em especial, designa o movimento sociológico que reúne o programa de pesquisa construído em torno do nome de Ferdinand de Saussure, que teve lugar nas quatro primeiras décadas do século XX e que contou com o apoio institucional e de publicação de Bally, Sechehaye e, posteriormente, de H. Frei. O livro que apresentamos ao leitor dá grande ênfase a esses personagens.

A primeira parte do livro, intitulada “Leituras de Saussure: a figura de Albert Sechehaye”, reúne textos de autoria de Sechehaye que explicitam o acolhimento que teve o Curso de linguística geral, de Saussure, no âmbito da Escola de Genebra. Gostaríamos de destacar a presença do texto “Os problemas da língua à luz de uma nova teoria”, publicado originalmente em 1917, uma das primeiras resenhas do Curso de linguística geral de que se tem notícia.

Na segunda parte, “A Escola linguística de Genebra em exame”, encontram-se artigos de grandes especialistas na Escola de Genebra.

Finalmente, na terceira parte do livro, “Correspondência sobre a edição do CLG”, apresentamos três conjuntos de cartas, relativas à redação do CLG e publicadas na prestigiada revista Cahiers Ferdinand de Saussure [Cadernos Ferdinand de Saussure], do Circle Ferdinand de Saussure [Círculo Ferdinand de Saussure]. Juntas, as cartas constituem uma documentação inédita em língua portuguesa que deve, seguramente, impulsionar a pesquisa em torno do pensamento de Saussure.

Enfim, este Saussure e a Escola de Genebra vem a público, no Brasil, no ano em que se registra o 110º ano de morte de Ferdinand de Saussure. Para além de um registro histórico, o nosso livro ambiciona contribuir para manter viva a discussão em torno do mestre genebrino entre nós, brasileiros, além de abrir caminhos de pesquisa ainda não completamente vislumbrados em nossa linguística. Desejamos uma excelente leitura!


Valdir do Nascimento Flores, professor titular de língua portuguesa, nos níveis de graduação e pós-graduação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e pesquisador PQ-CNPq. Nos últimos anos, suas pesquisas têm buscado desenvolver uma perspectiva antropológica de abordagem da enunciação. Pela Contexto, é organizador dos livros Dicionário de Linguística da Enunciação e Saussure, e coautor de Enunciação e discurso, Semântica, semânticas: uma introdução, Introdução à Linguística da Enunciação, Enunciação e gramática, Conceitos básicos de linguística: sistemas conceituais e Conceitos básicos de linguística: noções gerais, e autor A linguística geral de Ferdinand de Saussure


Gabriel Othero, professor de linguística, nos níveis de graduação e pós-graduação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua nas áreas de sintaxe (e sua interface com semântica, morfologia, estrutura informacional e prosódia), gramática do português brasileiro e história da linguística. Pela Contexto, publicou os livros Teoria X-barra: descrição do português e aplicação computacional (2006), Conceitos básicos de linguística: sistemas conceituais (2021) e Conceitos básicos de linguística: noções gerais (2022) e, em coautoria com Eduardo Kenedy, Chomsky: a reinvenção da linguística (2019), Para conhecer sintaxe (2018) e Sintaxe, sintaxes: uma introdução (2015) e Saussure e a Escola de Genebra (2023).

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