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A marca de Rolando Boldrin nas famílias brasileiras | Ricardo Taira

Na semana seguinte ao lançamento do livro “A História de Rolando Boldrin – Sr. Brasil” sai em viagem de férias. Fui rever amigos na Alemanha, todos músicos e que vivem dignamente da música erudita em um país com algumas centenas de casas de ópera. Só em Berlim são cerca de 80. Claro, levei os exemplares do livro que fiz em parceria com Willian Corrêa, companheiro e diretor de jornalismo da  TV Cultura, emissora que também abriga o premiado Sr. Brasil, programa semanal que Rolando Boldrin conduz com maestria.

Meus amigos ficaram encantados com o livro, a edição bem trabalhada e a capa chamativa mostrando o caipira com o sorriso aberto. Mais interessante foi ouvir episódios relacionados à carreira do artista biografado. Um desses amigos, o violonista e professor da Escola de Artes de Wuerzburg, Clemer Andreotti, radicado na Alemanha há mais de 30 anos, contou que seu falecido pai era fã incondicional de Boldrin. Clemer detalhou até uma passagem curiosa, que daria um causo bem contado no vozeirão do artista de São Joaquim da Barra. O pai, seu Orlando, era quem fazia a feira aos domingos.  Para não perder o SOM BRASIL, na TV Globo, naquele início dos anos 80, ele levava bastante dinheiro trocado. Não queria gastar tempo esperando troco. Percorria as barracas de sua preferência, comprava o necessário para abastecer a casa durante a semana, e voltava apressado para se acomodar no sofá antes da abertura do programa. Essa rotina se manteve por vários anos, inclusive após a ida de Boldrin para outras emissoras.

A exemplo do lar dos Andreotti, na zona leste de São Paulo, onde a viola fala alto, Boldrin marcou as manhãs de domingo de outras tantas famílias brasileiras. Tivemos o prazer de contar a trajetória desse artista até o auge da carreira, representado pela criação de um programa de música de raiz, de poesia, interpretada por gente, muitas vezes, desconhecida do chamado grande público. O que ele passou para alcançar o sucesso dá o roteiro de um filme. Aliás, é com enorme satisfação que vemos Boldrin, aos 80 anos, também no auge da carreira de ator, como o maquinista Giuseppe, em “O Filme da Minha Vida”, dirigido por Selton Mello e que acaba de ser lançado. No livro, contamos passagens hilariantes e sentimentais da atuação de Boldrin em novelas, nos palcos e nos filmes. É ele quem sempre diz: “sou um ator que canta”.

As várias fases na carreira de Boldrin, de duplinha caipira ainda menino, ao lado do irmão Leili, de extra na Tupi, onde diz que cansou de apanhar em cenas de aventura ao vivo no teleteatro, ao reconhecimento como talento da arte brasileira, está no livro que também marca a vida de seus biógrafos.


Ricardo Taira é paulistano do bairro do Brás. É formado em música clássica, mas nunca exerceu profissionalmente os dotes adquiridos no período de conservatório musical. Como jornalista, passou pelas principais redações de emissoras de TV do país, tendo também atuado na TVE da Espanha na década de 1980. Hoje exerce a função de editor-chefe do Jornal da Cultura da Fundação Padre Anchieta-SP.