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Quem são os colombianos? | Andrew Traumann

A Colômbia, na cabeça de muita gente, remete apenas ao bandido Pablo Escobar (morto há mais de vinte anos), ao narcotráfico e à violência, certo? É verdade que o narcotráfico é importante para se compreender os colombianos, mas de forma alguma o país e sua população se reduzem a isso.

Etnicamente, os colombianos lembram os brasileiros com sua forte miscigenação entre brancos, negros e indígenas. Suas praias são belíssimas, levando milhares de brasileiros a conhecer o Caribe sem precisar se deslocar até a República Dominicana.

Politicamente, a trajetória dos colombianos é única. Isso não significa que a Colômbia tenha uma história tranquila, pelo contrário. Por diversos fatores que o leitor conhecerá no decorrer do livro, a violência se tornou um triste padrão de resolução de questões políticas no país. Mas, em várias situações, os colombianos têm demonstrado capacidade de superar problemas terríveis e seguir com suas atividades cotidianas em circunstâncias que, para o observador estrangeiro, pareceriam desesperadoras.

A economia da Colômbia também vai muito além das drogas; o país é um grande produtor de petróleo e esmeraldas, e seu café de qualidade é apreciado em várias partes do mundo. A estabilidade econômica local, em muitos momentos, pode fazer inveja a outros países da América do Sul.

Os colombianos também podem se orgulhar de ter como conterrâneos um dos maiores escritores latino-americanos de todos os tempos, Gabriel García Márquez, um grande pintor e escultor reconhecido mundialmente, Fernando Botero, e uma estrela pop de primeira grandeza, Shakira.

Meu livro Os Colombianos, assim como os demais da série “Povos & Civilizações”, se propõe a ir além da História e de áridas análises políticas. Nesta obra, convido o leitor a conhecer a variada culinária colombiana, o dia a dia com suas expressões e gírias, o reggaeton, a salsa e o vallenato. A conhecer a paixão dos colombianos pelos concursos de Miss, a descobrir o interessantíssimo cinema local e saber como vivem mulheres e LGBT num país que, ainda que tardiamente, vem reagindo institucionalmente ao machismo e a homofobia.

Há analistas que dizem que a Colômbia é um país indecifrável. O professor David Bushnell, patriarca dos “colombianistas” norte-americanos, dizia que a Colômbia era o país latino-americano menos compreendido de todos. Há várias características que tornam esse país de fato um ponto fora da curva na América Latina. Os colombianos não conheceram em seu país uma forte imigração europeia, não sofreram ditaduras militares a partir da década de 1960, nem revoluções de cunho social, como os mexicanos, os cubanos ou nicaraguenses. Também não passaram pelo fenômeno populista dos 2000, como Brasil, Argentina, México e Venezuela. Gaitán talvez fosse esse líder, mas foi morto antes de chegar ao poder. Assim, é difícil encaixar a Colômbia em teorias prontas e vindas de fora. É difícil compreender o país por meio da “teoria da dependência”, da “substituição de importações” ou do “desenvolvimentismo”, explicações que não se encaixam completamente na sua trajetória.

O aspecto mais admirável do povo colombiano é seu desenvolvimento cultural diverso, complexo e original. Pois não existe uma única Colômbia, mas várias. Seus habitantes falam a mesma língua, mas têm culturas, hábitos e estilos de vida tão distantes como se fossem quatro povos em um só país. Porém, apesar de todas as dificuldades e desafios que apresentamos neste livro, os colombianos têm conseguido se manter unidos. E só o fato de terem conseguido isso já é motivo de admiração.


Andrew Traumann é historiador graduado pela Universidade Estadual de Londrina, mestre em História e Política pela Universidade Estadual Paulista (campus Assis) e doutor em História, Cultura e Poder pela Universidade Federal do Paraná. É professor de História das Relações Internacionais e de História da Política Externa do Brasil no curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba, no qual, além de lecionar, coordena grupos de Iniciação Científica. Costuma viajar com frequência para a Colômbia, país onde fez muitos amigos e que considera sua segunda pátria.