A seguir, apresento as especificações para a produção de 27 gêneros do discurso da esfera acadêmico-científica. Tais gêneros, de acordo com Bakhtin (2011), são enunciados orais ou escritos relativamente estáveis de uso da língua, construídos a partir de conteúdo temático, estilo e construção composicional. Além dessas orientações bakhtinianas, incidem sobre a produção do texto acadêmico algumas questões contextuais, como os objetivos dos interlocutores, da situação comunicativa, do estilo de quem produz o texto e da especificidade do campo e do objeto do conhecimento.
No exercício processual da produção de textos acadêmico-científicos, o autor vai desenvolvendo suas habilidades, que, para além da pertinência dos objetos do conhecimento de cada produção, precisam atender a parâmetros da construção composicional de cada gênero, da adequação de linguagem e estilo e de questões de posicionamento político dos pesquisadores, programas de pesquisa e instituições, os quais nem sempre são explícitos ao pesquisador iniciante. Trata-se, portanto, de um trabalho processual que vai ganhando robustez ao longo do processo de formação.
Apenas para situar o leitor, estou distinguindo, no interior da esfera acadêmico-científica, dois subgrupos. Concebo como gêneros acadêmicos aquelas produções de natureza mais rotineira no processo de ensino-aprendizagem, normalmente resultantes de leituras realizadas, tais como resumo, resenha, mapa conceitual etc. Já os gêneros científicos, estou concebendo como aqueles amparados por uma metodologia científica, vivenciada pelo pesquisador e descrita no decorrer do texto. Tais produções, a meu ver, são mais densas do que as primeiras e divulgam um saber científico, como uma monografia, uma dissertação, uma tese, um artigo científico etc.
Neste trecho do livro, vamos apresentar alguns gêneros.
Artigo científico
O artigo científico é um texto destinado à publicação e é muito elaborado por alunos de graduação e, mais especialmente, de pós-graduação. A ABNT define artigo científico como “parte de uma publicação com autoria declarada, de natureza técnica e/ou científica” (ABNT NBR 6022, 2018, p. 2). Serve à apresentação e discussão, nas diversas áreas do conhecimento, de ideias, métodos, técnicas, processos e resultados.
Trata-se de uma produção mais profunda do que um ensaio e menos abrangente do que uma monografia, mas que exige uma boa capacidade de síntese dos pesquisadores. Normalmente, é publicado em revistas ou periódicos especializados, com normas editoriais próprias, às quais deve o autor se submeter. Possibilita ao leitor uma rápida tomada sobre o assunto, abordando o resultado de uma pesquisa teórica ou de campo. Para sua elaboração, contudo, é necessário passar por todas as fases de construção do conhecimento científico. Assim, elaborar um projeto de pesquisa é a primeira tarefa do pesquisador. Em seguida, passa pela fase da pesquisa propriamente dita para, então, elaborar o relato em forma de artigo científico.
Tipos de artigos
Há dois tipos de artigo científico:
Artigo original – o autor (pesquisador) pretende responder a uma pergunta (problema). Para isso, ele parte da pesquisa bibliográfica para a de campo, a fim de elaborar uma publicação que apresente temas ou abordagens originais.
Artigo de revisão – é uma produção que resume, analisa e discute informações já publicadas. O autor delimita um assunto amplo e procura dialogar com alguns autores tidos como referências teóricas. Nesse diálogo, a voz do pesquisador aparece apresentando, confirmando, refutando, sintetizando o que os outros disseram.
Continuamos no próximo post.
Para saber todos os gêneros apresentados na obra e em ordem alfabética e não pelo domínio acadêmico ou científico que represente. Adquira o livro Como produzir textos acadêmicos e científicos, do professora Ada Magaly Matias Brasileiro