Preconceito contra os idosos limita a inovação e a expansão econômica. Consultora afirma que baby boomers são uma força que não pode ser ignorada.
No começo do mês, assisti a diversas palestras da semana de inovação da Age Well, iniciativa canadense focada no desenvolvimento de tecnologias a serviço do envelhecimento, mas a que mais me chamou a atenção foi dedicada a formas de combater o ageísmo (ou etarismo), isto é, o preconceito contra os mais velhos. Anne Marie Wright, consultora de marketing e negócios há 25 anos, afirmou que os baby boomers, os nascidos entre 1946 e 1964, dispõem de cerca de 33 trilhões de dólares no Canadá – nos EUA, a riqueza acumulada por eles chega a quase 60 trilhões de dólares! – e são uma força que não pode ser ignorada: “o preconceito limita a inovação e a expansão econômica. O mercado deveria se preocupar menos em falar com os jovens e tentar entender esse novo sênior que é muito diferente de gerações anteriores”.
Jane Barratt, secretária-geral da Federação Internacional de Envelhecimento (IFA em inglês), lembrou que o preconceito se manifesta na forma como pensamos, sentimos e agimos – e temos que trabalhar em todas essas frentes. Além disso, enfatizou que é preciso criar um ambiente favorável ao envelhecimento e um sistema de cuidados abrangente, que inclua as instituições de longa permanência: “nosso objetivo tem que ser possibilitar que as pessoas tenham a oportunidade de continuar fazendo o que valorizam”.
Gregor Sneddon, diretor-executivo da HelpAge Canadá, ressaltou a importância de um ambiente acolhedor para o aprendizado contínuo: “é fundamental quebrar a primeira barreira, a do idoso achar que é velho demais para aprender”. Naquele país, há programas que disponibilizam tablets para idosos sem recursos e transformam jovens em mentores dos maduros para guiá-los no mundo on-line. Por último, a escritora Oliver Senior, de quase 80 anos, sintetizou numa frase sua disposição: “eu sou engajada com o mundo, quero saber o que está acontecendo e participar”.
Todos conhecemos o poder das palavras. No entanto, se elas moldam e refletem o preconceito, podem igualmente ser utilizadas para combatê-lo. A expressão “tsunami grisalho”, apesar da forte carga negativa – afinal, é sinônimo de destruição – está tão enraizada que seu equivalente em inglês tem mais de 30 milhões de resultados. No vídeo “What´s old?” (“O que é ser velho?”), disponível nesse link, um grupo de adultos jovens muda radicalmente seu conceito sobre a velhice depois de ser apresentado a idosos que estão bem longe da visão estereotipada que tinham dessa fase da vida.
O relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, publicado em março, reforça que o preconceito está associado a um quadro de saúde física e mental de pior qualidade, declínio cognitivo e menor expectativa de vida. O isolamento social e a solidão também aumentam o risco de violência e abusos. A instituição sugere três estratégias para mudar a situação: através de leis e políticas públicas; de programas de educação contra os estereótipos negativos que envolvem a velhice; e de intervenções intergeracionais, que estimulem a convivência entre jovens e velhos. Que tal fazer parte do movimento?
Fonte: Blog Longevidade modo de usar – G1
Mariza Tavares é jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense. Fez mestrado em comunicação na UFRJ e MBA em gestão de negócios no Ibmec. Desde 2016, mantém o blog “Longevidade: modo de usar”, no portal G1. Também dá aulas na PUC-Rio e participa do conselho editorial da Agência Lupa, especializada em fact-checking. Foi diretora-executiva da Rádio CBN entre 2002 e 2016, onde criou o programa “50 Mais CBN”, do qual participava com o médico Alexandre Kalache e a jornalista Mara Luquet, e, antes disso, editora-executiva do jornal O Globo e repórter da revista Veja.