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Português brasileiro: a língua que falamos | Lançamento

Português brasileiro: a língua que falamos | Lançamento

Este livrinho se propõe a ser uma conversa coloquial sobre a língua que mais falamos no Brasil, o português brasileiro, dando uma especial atenção ao que os falantes pensam, suas crenças e opiniões. Para isso, comecei por me fazer uma pergunta: como se evidencia o senso comum em relação à língua portuguesa na norma utilizada no Brasil? Confrontada com essa pergunta, percebi que ela se desmembrava em pelo menos duas outras:

  1. Como é a língua nossa do dia a dia?
  2. Como as pessoas se referem aos seus modos de falar, ou seja, aos seus modos de usar a língua?

A primeira questão é muito estimulante, mas era incompatível com a proposta do livrinho, pois de fato haveria de exigir muito mais, talvez toda uma coleção de livros. No entanto, tranquilizava-me a certeza de que já há no Brasil e nos demais países lusófonos (Portugal, na Europa, Brasil, na América do Sul, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Ilhas de Cabo Verde e Guiné Bissau, na África, além do Timor Leste, na Ásia) – compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) uma vasta produção de livros e artigos voltados à descrição da língua portuguesa, sua estrutura e seus usos, em cada uma dessas comunidades de fala, que contempla também a forma como a língua, em cada uma delas, se manifesta em diversas variedades (ver mais no capítulo “História do português no Brasil”, seção “Contínuos linguísticos”). Mesmo não sendo nosso compromisso fazer mais uma descrição exaustiva do português brasileiro, alguns aspectos bem específicos dos nossos modos de falar a língua portuguesa vão merecer atenção. Especialmente, espero aduzir novas informações sobre os referidos aspectos, valendo-me de uma perspectiva sociolinguística, isto é, com maior ênfase nos usos da língua do que na forma propriamente.

Refletindo sobre a segunda questão apresentada – como as pessoas se referem aos seus modos de falar, ou seja, aos seus modos de usar a língua –, pensei em buscar em adágios ou provérbios de uso generalizado no Brasil alguma referência a essa questão, pois formas consagradas em um grupo social podem ser muito reveladoras das crenças e atitudes no grupo.

Comecei, então, por selecionar na internet adágios populares referentes, de forma direta ou indireta, à interação verbal dos falantes em nosso país. Nos próximos capítulos, veremos o que provérbios e expressões do senso comum podem nos ensinar sobre a nossa língua do dia a dia. Mas, antes, é preciso começar do começo, ou seja, identificar sucintamente a língua portuguesa, no concerto das línguas nacionais contemporâneas, sempre enfatizando seus usos brasileiros.

Quando tratamos de crenças e atitudes dos falantes do português do Brasil em relação à língua majoritária no país, não podemos nos furtar de discutir, em primeiro lugar, a crença de que o português “é a língua mais difícil que tem”. Para isso, será preciso recuperar algumas informações referentes à transposição da língua portuguesa da Europa para o Brasil e o processo de “glotofagia” dessa língua em relação às demais línguas faladas no que hoje é o território brasileiro. Chamamos de glotofagia o fenômeno de ordem política ou social que resulta no desaparecimento de uma ou mais línguas por influência de uma língua ou cultura de maior prestígio.

A Sociolinguística, como sabemos, é um campo de estudo multidisciplinar, pois inclui dimensões da sócio-história da língua, aspectos sociológicos dos seus usos na comunidade de fala e a descrição de fenômenos linguísticos que são por natureza variáveis.

Um bom exemplo da abrangência da disciplina Sociolinguística são os dois livros de Ralph Fasold: The Sociolinguistics of Society (1984) The Sociolinguistics of Language (1990).

O presente livro segue essa orientação epistemológica. Os quatro primeiros capítulos ocupam-se da história da Língua Portuguesa, sua origem ibérica e transplantação para o Brasil. Os quatro capítulos seguintes são dedicados às dimensões sociológicas do português na comunidade de fala brasileira. A perspectiva analítica desses capítulos é macrossocial. Os capítulos finais têm perspectiva analítica microssocial e tratam de aspectos linguísticos e fenômenos do português brasileiro.


Stella Maris Bortoni-Ricardo é professora titular aposentada de Linguística da Universidade de Brasília (UnB), onde atuou na Faculdade de Educação (graduação e pós-graduação), no doutorado em Linguística, foi diretora do Instituto de Letras e coordenadora de pós-graduação em Linguística e em Educação.

Pela Editora Contexto, é autora do Manual de sociolinguística e Português brasileiro: a língua que falamos e coautora dos livros Ensino de português e sociolinguísticaFormação do professor como agente letradorLinguagem para formação em Letras, Educação e Fonoaudiologia; Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos e Sociolinguística, sociolinguísticas: uma introdução.