“Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma risada!”. O pensamento é do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Sua atualidade é incontestável.
A Covid-19 revela toda a fragilidade da vida. A morte, que ronda sem a menor discrição, fala do risco que significa estar nesse mundo infectado. Os valores, aquilo que realmente conta, nada é tão significativo como agora. Neste cenário ameaçador, o sentido de urgência se torna pra lá de urgente. Ele deixa de ser um jeito de falar e passa a significar uma filosofia de vida. O tempo urge e vale ouro. É algo precioso demais para ser desperdiçado.
Dançar é essencial. A verdade, acompanhada por uma boa risada, é essencial, segundo Nietzsche. A filosofia, arte que sabe, com virtuosismo, penetrar a essência das coisas, é essencial. Ela nos ajuda a compreender a vida e o mundo com a profundidade que atravessa a mera camada de verniz de alguns poucos conhecimentos. O senso crítico precisa manter a supremacia sobre o comum, que nega a ciência e produz afirmações que atentam contra a vida.
Enquanto isso, é preciso aproveitar o dia. “Carpe diem”: eis a recomendação latina que adverte para a importância de não desperdiçar o tempo disponível. Afinal, ele é a plataforma, a base sobre a qual a vida se constrói. E não há como recuperá-lo, quando se perder. A regra básica consiste em, primeiro, cuidar do essencial. Depois, dedicar tempo e esforço para o importante. Por fim, e somente então, investir no acidental. Porque se viver é urgente, administrar o tempo é fundamental, para que a existência não escorra por entre os dedos descuidados. E isso é apenas o mínimo a ser feito.
Dançar. Dar risada. Olhar pela janela. Escrever uma crônica. Tudo isso pede disposição e coragem de soltar o corpo, a mente, a mão, e deixar a música do desejo de viver embalar nossos passos. Tudo isso pede aprendizado. Tudo pede treino – a repetição leva à perfeição. Por fim, tudo pede desejo de realizar o melhor. E só quem aproveita o tempo sai em busca desses conteúdos, com disposição para recolher o máximo que encontrar.
“Eu tomo todas as minhas decisões baseado na minha intuição. Eu lanço um dardo no escuro – isso é intuição. Depois eu mando um exército recuperar o dardo – isso é intelecto.” Foi assim que o cineasta Ingmar Bergman resumiu o que considero a essência da criatividade. Lançar o dardo sobre a multiplicidade de imagens, sons, informações, emoções, sensações e experiências. E fazer a surpreendente associação de ideias com os conhecimentos pessoais, para gerar novas respostas, descobertas e soluções desejadas.
É da quantidade que vem a qualidade. E qualidade é essencial. Qualidade de pensamento e de ação. Qualidade de vida. Porque a vida se tornou urgente, segundo decisão monocrática da Covid-19.
Cumpra-se.
Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]