Só aqui a data é celebrada em junho. E parte da culpa envolve o pai do governador de São Paulo, João Doria.
A resposta curta é: o resto do mundo não celebra o Dia dos Namorados em 14 de fevereiro, mas o Dia de São Valentim. Dia dos Namorados é uma criação de uma agência de publicidade paulistana. Na Inglaterra, onde o costume surgiu, celebra-se o São Valentim desde o tempo dos cavaleiros.
A história de São Valentim não tem nada de romântica. Ele é um mártir cristão, morto em 14 de fevereiro de 269 por ordem o imperador Cláudio, o Gótico (que recebeu esse nome por ter vencido os godos – ou góticos). Seu milagre é ter curado uma moça de cegueira – em algumas versões, a filha de um juiz; em outras, a de seu carcereiro. Logo após, foi decapitado. Várias igrejas do mundo, na Espanha, Irlanda, Polônia, Itália e Grécia, afirmam ter pelo menos parte de seus restos.
Foi só na Idade Média que o mártir ganhou outra reputação. A primeira referência romântica que se conhece é o poema O Parlamento dos Pássaros, do inglês Geoffrey Chaucer (1343-1400). Ele relacionava o acasalamento das aves, que aconteceria perto do dia de São Valentim, a uma data particularmente auspiciosa para os amantes – amores entre damas e cavaleiros, o amor cortês. A lenda foi crescendo e, no século 15 já se dizia que ele havia casado soldados para que não fossem para a guerra e que a havia deixado uma carta para a filha do carcereiro assinada “De seu Valentim” – como os cartões dados hoje em dia.
Por que não colou?
Nem todos os países relacionaram São Valentim aos namorados. Na Grécia, ele é celebrado apenas como um mártir. Na Eslovênia, é o padroeiro dos criadores de abelhas. Na América Latina, o dia também vale para amigos. O costume já havia sido adotado antes da Revolução Industrial em países da Europa Ocidental. Mas a maioria dos países adotou o sentido atual por influência americana, inclusive os do extremo oriente – e Portugal. Por que não colou no Brasil? Por três razões.
Primeiro, a cultura por aqui era muito conservadora para essa conversa de namorar. O que havia era aquela coisa de noivo e noiva em cada canto do sofá, com a mãe no meio. “O namoro só começa a existir mesmo no Brasil, a partir destas décadas de 20 e 30”, afirma a historiadora Mary Del Priore. “E olhe, lá…O rapaz acompanhava a moça até a porta de casa e, portões adentro, já era compromisso para noivar.”
E, nisso de só casando, Valentim tinha um sério concorrente: Santo Antônio. “Santo Antônio era o santo casamenteiro em Portugal”, diz Mary. “A tradição veio de lá e desde o Brasil colônia é mencionado como mediador, para ajustar parcerias. Durante o ciclo das festas juninas era muito invocado e faziam-se adivinhas em seu nome. Quando os pedidos não eram atendidos, tiravam o menino Jesus de seus braços ou colocavam o santo de cabeça para baixo: de castigo.”
A festa de Santo Antônio, porém, é uma não exatamente romântica festa junina (bafo de quentão, casca de milho nos dentes e beijos apaixonados não combinam). Entra então o maior culpado: o publicitário João Doria (1919-2000), pai do atual governador de São Paulo. Não fosse por ele, provavelmente teríamos importado o feriado na mesma data do resto do mundo.
Em 1948, sua agência, a Standart Propaganda, recebeu um trabalho da Exposição Patriarca e Modas Clipper, lojas de roupas. Eles queriam impulsionar as vendas em junho, mas o mês não tinha nenhuma data como Natal ou Dia das Mães para convencer o povo a comprar.
Doria então importou o São Valentim do jeito dele. Simplesmente criou um anúncio dizendo que 12 de junho era o Dia dos Namorados e os pombinhos deviam correr para as lojas.
Fonte: Publicado no Aventuras na História