Poluição veicular: níveis preconizados pela OMS estão longe do ideal. Segundo Paulo Saldiva, para a redução da poluição, o “cigarro ambiental”, dependemos de políticas públicas de ordenamento urbano – as quais são esperadas dos novos prefeitos e vereadores.
Durante os primeiros meses da pandemia, houve uma queda no nível de poluição nas cidades em função do menor número de carros circulando. Segundo o professor Paulo Saldiva, essa queda mostra que é possível, por meio do reordenamento do sistema de transportes, o uso de transporte de massa de baixa emissão, além da demanda de mobilidade para realização de tarefas, como é o caso do home office.
Ainda que os níveis ideais, preconizados pelos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), não sejam atingidos, “talvez devêssemos chegar perto”, afirma Saldiva, segundo o qual o nível de material particulado fino na cidade de São Paulo, na média anual, é mais que o dobro desejável em um padrão de maior qualidade.
“Estudos confirmam a análise de que a fuligem que inalamos nas ruas, acima dos níveis ideais, aumenta o risco de termos câncer de pulmão. Logicamente, é muito menor que os riscos do cigarro, por exemplo, mas é um risco do qual não temos escolha. É como se fumássemos poucos cigarros por dia e, quanto mais ficamos na rua, mais exposição temos a um agente – exposição essa à qual não temos escolha, ao contrário do cigarro”, aponta o professor.
Saldiva conclui afirmando que, para reduzir a poluição, “esse cigarro ambiental”, dependemos de políticas públicas de ordenamento urbano e de adoção de novas tecnologias e combustíveis mais limpos. “Considerando, ainda, que estamos na iminência de eleições municipais, tomara que os novos prefeitos e parlamentos venham com propostas consistentes de um planejamento urbano mais sustentável, o que vai acarretar para nós mais saúde e qualidade de vida”, conclui.
Fonte: Jornal da USP
Paulo Saldiva, médico patologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com pesquisas em doenças respiratórias, patologia ambiental e antropologia médica. Ciclista por vocação, gaitista por superação e esforço, é apaixonado por São Paulo. Pela Contexto é autor dos livros Brasil: o futuro que queremos e Vida urbana e saúde.