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Poluição do ar pode afetar desenvolvimento de bebês ainda em sua formação | Paulo Saldiva

Paulo Saldiva cita estudos que demonstram os efeitos da poluição sobre o feto, num momento em que, uma vez mais, prioriza-se o transporte individual em detrimento do coletivo

Em sua coluna desta semana, Paulo Saldiva fala sobre as recentes evidências que dão conta de que a poluição do ar que inalamos nas ruas pode afetar o desenvolvimento de bebês, especialmente no espaço intrauterino. Estudos realizados na Universidade de São Paulo demonstraram alterações de fluxo placentário, uma vez que a poluição atravessa a placenta e chega ao feto, e este, uma vez exposto à poluição, apresenta algumas alterações. Por outro lado, um trabalho feito pela Unicamp, em parceria com a Faculdade de Medicina da USP e a Universidade  de Harvard, a partir do exame de camundongos durante a gestação e depois, já no aleitamento, mostrou que a exposição à poluição, especialmente no período da formação do embrião, provoca alterações metabólicas que propiciam uma maior tendência à obesidade.

Ou seja, os animais nascem com o conteúdo de gordura corpórea maior do que aqueles não expostos a níveis de poluentes. “Então, nós temos duas coisas que precisam ser consideradas”, conclui Paulo Saldiva, “o sedentarismo induzido por um transporte motorizado, que nos obriga a ficar sentados durante horas e, ao mesmo tempo, ao sermos expostos à poluição ainda quando embriões, sem que tenhamos qualquer escolha sobre o nosso destino, os nossos hábitos, a poluição pode ser um dos fatores que contribuem para o risco da gente ficar mais obeso ou com mais sobrepeso na idade adulta. Acho que é um caso para se pensar, especialmente no contexto que se discute um plano diretor que, mais uma vez, incentiva o transporte individual veicular.”


Fonte: Jornal da USP por Paulo Saldiva

O professor Paulo Saldiva é autor do livro Vida urbana e saúde

Somos um país urbano: 84% da população brasileira concentra-se em cidades e ao menos metade vive em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas a vida urbana não traz apenas novas oportunidades. Ela propicia doenças provocadas por falta de saneamento, picadas de mosquitos, poluição, violência, ritmo frenético… E tudo isso não ocorre mais apenas nas grandes cidades, mas também nas médias e mesmo pequenas, quase sempre negligenciadas pelo poder público e pelos próprios cidadãos. Mas, afinal, o que fazer para ter boa qualidade de vida nas cidades? Assim como o médico deve pensar na saúde dos seus pacientes – e não apenas em tratar determinada doença –, uma cidade saudável é aquela em que seus cidadãos têm boa qualidade de vida. E o médico Paulo Saldiva, pesquisador apaixonado pelo tema, mostra que é possível, sim, melhorar e muito o nosso dia a dia.

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