Este é o segundo e último volume de Os monoteístas. Junto com o primeiro, recentemente publicado pela Editora Contexto, formam uma obra completa sobre judeus, cristãos e muçulmanos. São volumes interdependentes, não sendo essencial que se leia o primeiro para se entender este, ou vice-versa. Mas não é difícil prever que, concluído um volume, fatalmente o leitor se interessará pelo outro…
Enquanto o primeiro compara os povos que adotaram o monoteísmo e descreve sua trajetória histórica, este se preocupa em falar das crenças, mostrando o desenvolvimento das idéias – principalmente as religiosas – e das instituições. Aqui o autor se ocupa em mostrar a evolução daquelas que são consideradas as verdades religiosas, desde a confecção até a cristalização das Escrituras, suas interpretações oficiais ou tradicionais, assim como eventuais ramificações e desvios de rumo, como as heresias.
Nessa linha, o livro dá a palavra aos grandes “explicadores”, como Maimônides, Agostinho e Ibn Khaldun, assim como revela as formas encontradas pelas pessoas para seguir as palavras divinas (como eremitas, monges, rabis, comunidades fechadas, comunidades minoritárias, grupos hegemônicos) e ensiná-las (escolas religiosas, ensino religioso).
Um dos aspectos mais fascinantes do livro é quando ele compara noções e conceitos como: pecado, paraíso/céu/inferno/purgatório, anjos, demônios, messias, santos ou outros intermediários, possibilidades e limites da ação humana (assuntos como livre-arbítrio, predestinação, responsabilidade, impotência diante dos desígnios divinos ou possibilidade de interseção, ou seja, de “negociação” com Deus), o Fim dos Tempos, os castigos e as recompensas.
A obra termina falando dos cultos e das principais festas religiosas (inclui peregrinações, períodos de purificação etc.), das liturgias, dos ídolos e das representações, de algumas devoções “oficiais” e de crenças populares.
O que este livro tem de diferente? Primeiramente o autor, que além de grande especialista, escreve bem, tem texto claro e vigoroso. Deve-se notar que, embora muitas vezes irônico, mantém o respeito, não é tendencioso e busca a neutralidade, preocupando-se com conclusões apenas após fornecer as informações, algo meio incomum na área.
O livro foi objeto de cuidadosa tradução. O leitor desta obra ficará com uma base sólida para entender de uma área sobre a qual sobram mitos e faltam boas análises, principalmente em língua portuguesa.
Conhecer bem o assunto não reforçará nem abalará a fé das pessoas, mas seguramente fará com que elas fiquem mais tolerantes. É sempre bom compreender as razões do outro. Ou até poder criticá-lo com mais fundamento.
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