Paulo Saldiva fala sobre as conclusões a que chegaram pesquisadores de todo o mundo para explicar a relação entre o surgimento de pandemias e os fatores climáticos
Adensamento populacional, urbanização acentuada, o surgimento de novos agentes patogênicos – inclusive com a evolução dos antigos – são alguns dos fatores que podem explicar o aparecimento de pandemias, segundo o professor Paulo Saldiva. No entanto, também existem fatores globais a considerar – como o aquecimento global e as mudanças climáticas – por trás do maior risco do surgimento de doenças infecciosas. No caso específico da covid-19, pesquisadores de todo o mundo, após estudos em 540 cidades espalhadas pelo planeta, chegaram à conclusão de que o clima urbano facilita a transmissão do coronavírus, “não somente devido às características de mobilidade, políticas e moradias que cada cidade tem, mas, independentemente das características de cada cidade, país ou das políticas adotadas localmente, houve uma contribuição significativa do clima”.
Variações abruptas de temperatura e baixa umidade absoluta são, segundo o colunista, importantes fatores a contribuir para o aumento da covid-19 numa determinada região. “Quando ocorrem esses períodos, seja de baixa temperatura e baixa umidade, o risco de transmissão da covid aumenta 33% e isso significa que nós temos que cuidar também do clima urbano, de recompor a cobertura vegetal, devolver a umidade a esses desertos de concreto que nós construímos e nos prepararmos para as mudanças climáticas.” Nesse aspecto, ainda de acordo com Saldiva, as cidades talvez tenham mais a oferecer no enfrentamento do problema do que os governos nacionais.
Fonte: Jornal da USP por Paulo Saldiva
O professor Paulo Saldiva é autor do livro Vida urbana e saúde
Somos um país urbano: 84% da população brasileira concentra-se em cidades e ao menos metade vive em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas a vida urbana não traz apenas novas oportunidades. Ela propicia doenças provocadas por falta de saneamento, picadas de mosquitos, poluição, violência, ritmo frenético… E tudo isso não ocorre mais apenas nas grandes cidades, mas também nas médias e mesmo pequenas, quase sempre negligenciadas pelo poder público e pelos próprios cidadãos. Mas, afinal, o que fazer para ter boa qualidade de vida nas cidades? Assim como o médico deve pensar na saúde dos seus pacientes – e não apenas em tratar determinada doença –, uma cidade saudável é aquela em que seus cidadãos têm boa qualidade de vida. E o médico Paulo Saldiva, pesquisador apaixonado pelo tema, mostra que é possível, sim, melhorar e muito o nosso dia a dia.