Existe uma única forma de falar “certo”? Nesse caso, qual seria? Costumamos achar que “o outro” fala errado, com sotaque, cantando, esquisito. É bom que todos saibam que existe uma área do saber que estuda essas variações da língua com rigor científico. Trata-se da Sociolinguística.
A Sociolinguística é uma das subáreas da Linguística e estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos linguísticos e sociais. Esta ciência se faz presente num espaço interdisciplinar, na fronteira entre língua e sociedade, focalizando precipuamente os empregos linguísticos concretos, em especial os de caráter heterogêneo.
A Sociolinguística como uma ciência autônoma e interdisciplinar teve início em meados do século XX, embora haja vários linguistas que, muito antes dos anos 1960, já desenvolviam em seus trabalhos teorias de natureza claramente sociolinguística, como é o caso de Meillet [1866-1936], Bakhtin [1895-1975] e membros do Círculo Linguístico de Praga. Esses são pensadores que levavam em conta o contexto sociocultural e a comunidade de fala em suas pesquisas linguísticas, ou seja, não dissociavam o material da fala do produtor dessa fala, o falante – pelo contrário, consideravam relevante examinar as condições em que a fala era produzida.
Na sua infância, a pesquisa sociolinguística foi motivada pela constatação de que crianças oriundas de grupos linguísticos minoritários apresentavam desempenho escolar muito inferior ao das crianças provenientes de classe média e classe alta. Hoje podemos explicar essas diferenças com base no grau de letramento com que as crianças convivem em seu ambiente familiar. Na década de 1960, quando os primeiros sociolinguistas buscavam no repertório linguístico das crianças as explicações para o seu melhor ou pior ajustamento à cultura escolar, ainda pouco se discutia o impacto da cultura letrada sobre grupos sociais ou nacionais.
Liderados por William Labov, os sociolinguistas pioneiros, nos Estados Unidos, desenvolveram intensivas análises contrastivas entre a variedade do inglês que era a língua materna dos alunos em questão e o chamado inglês padrão, falado e ensinado na escola. Nesses tempos em que se firmavam as raízes da Sociolinguística, essa ciência voltou-se prioritariamente para a descrição da variação e dos fenômenos em processo de mudança, inerentes à língua, expandindo-se depois para outras dimensões da linguagem humana.