De modo geral, associa-se a geolinguística a uma disciplina que se dedica ao mapeamento de variantes fonéticas, semântico-lexicais e morfossintáticas, com o intuito de identificar áreas dialetais e oferecer um atlas linguístico que subsidie outros estudos e que documente, de forma ampla e exaustiva, a língua falada em uma determinada área geográfica. Por sua preocupação, legítima, de buscar resguardar a comparabilidade com dados mais antigos, é natural que práticas de pesquisa como mapear, delimitar áreas, produzir atlas linguísticos sempre tenham desempenhado um papel determinante. Tais práticas vêm de uma herança histórica que emerge da dialetologia, a partir do final do século XIX, e que se mantêm, até hoje, na companhia de sua disciplina vizinha, a sociolinguística.
Para os fins deste capítulo, no entanto, cabe refletir se esse escopo é suficientemente adequado e se acompanha as mudanças crescentes do mundo moderno, envolvendo, por exemplo, espaços virtuais novos, migrações, plurilinguismo e contatos linguísticos (Radtke e Thun, 1996). O que estudos recentes apontam, no tripé dialetologia-geolinguística-sociolinguística, é a tendência de ampliar e contemporizar o escopo de atuação da geolinguística, para além das práticas tradicionais. Com esse propósito, define-se, a seguir, geolinguística como o campo de estudos do uso das línguas e de sua variação e mudança linguística em quaisquer tipos de relação com o espaço geográfico. Explicitar o que essas relações implicam, como se chegou a uma compreensão mais consistente do que está em jogo e quais estudos, a título de orientação, se pode recomendar, nessa perspectiva, é o objetivo a seguir.
Capítulo escrito por Cléo Vilson Altenhofen é professor titular do Instituto de Letras da UFGRS, com formação na área de germanística e dialetologia. No PPG-Letras, atua na linha de pesquisa de Sociolinguística.
Livro A Linguística hoje: múltiplos domínios organizadores:
Gabriel de Ávila Othero é professor de Linguística de graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É autor do livro Teoria X-barra, coautor de Conceitos básicos de linguística: sistemas conceituais e Conceitos básicos de linguística: noções gerais e Para conhecer sintaxe, além de coorganizador de Sintaxe, sintaxes: uma introdução, Chomsky: a reinvenção da linguística, Saussure e a Escola de Genebra e A Linguística hoje: Múltiplos domínios.
Valdir do Nascimento Flores é professor titular de graduação e pós-graduação de Língua Portuguesa da UFRGS. É coorganizador dos livros Dicionário de Linguística da Enunciação, Saussure e Saussure e a Escola de Genebra e A Linguística hoje: Múltiplos domínios, e coautor de Enunciação e discurso, Semântica, semânticas: uma introdução, Introdução à linguística da enunciação, Enunciação e gramática, Conceitos básicos de linguística: sistemas conceituais, Conceitos básicos de linguística: noções gerais, e autor de A linguística geral de Ferdinand de Saussure.