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O futuro e a construção de um legado | Rubens Marchioni

Aqui e acolá, o tempo todo leio reflexões sobre a maneira como vamos trabalhar no futuro. Um futuro que, se não me engano, já está por aqui, embora ainda com traços pouco definidos. Aliás, isso de não ter um nível muito claro de definição parece fazer parte da sua natureza. Caso contrário, e num processo dialético, ele já seria o presente na sua versão mais elaborada e pedindo para se transformar no passado.

De saída, sabemos de uma coisa: em grande medida, vamos trabalhar remotamente. Mas sempre teremos vínculo empregatício? Contaremos, o tempo todo, com uma estrutura que vai nos garantir um salário mensal, hora extra, condições de progresso profissional, incluindo programas de capacitação, fundo de garantia por tempo de serviço, convênio médico, vale-refeição, vale-transporte, placa comemorativa pelo tempo de casa, podendo mesmo ser tombado como patrimônio da empresa?

Não. E nem é preciso que alguém nos diga isso. Os fatos se encarregam de dispensar qualquer palavra que tenha o propósito de informar essa realidade inegável.

Ora, essa mudança de cenário, com a instalação do trabalho autônomo, vai exigir de nós uma atitude um tanto audaciosa, palavra que, na sua origem latina, fala de ousadia ou atrevimento. Isso significa que, ficar parado, com medo de se lançar, de ser incompreendido, vai ser a pior estratégia para quem deseja se manter em atividade no mercado profissional e conquistar autonomia de pensamento e ação.

O audacioso, esse será voltado para a inovação. Diante dele estará sempre o desejo de romper com antigos paradigmas, ainda que sagrados, como esses que listei aí em cima. Ele vai escolher caminhos inexplorados, dispensando os métodos previamente estabele-cidos, quando isso for necessário. Arrojado, será o criador de ideias inovadoras e revolucionárias. “Todo grande progresso da ciência resultou de uma nova audácia da imaginação”, lembrou o filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey. E certamente pagará um preço por isso. No entanto, nenhuma fatura o intimidará. Com uma dose suficiente de autoconhecimento e autoestima, ele saberá vencer cada novo obstáculo em sua jornada. Não, não se trata de um herói à maneira que aprendemos a conhecer. A descrição se limita a delinear o novo profissional do século 21, bem mais independente, com todas as suas demandas, inclusive aquelas geradas pela passagem do novo coronavírus.

A realização do trabalho autônomo vai exigir coragem, além do espírito de inovação. Isso tem a ver com pensamento estratégico. Nas palavras do poeta e romancista Jean Cocteau, “O tato na audácia é sabermos até onde podemos ir.” Esse novo profissional deverá ter em mente que, apesar de todos os riscos, calculados, ele pode atingir as suas metas e viver uma experiência de autonomia realizadora. Afinal, ele é o personagem de uma história conduzida integralmente por suas escolhas, roteirista e diretor da sua jornada. O que deve implicar uma vida mais feliz e completa.

Esse aparente atrevimento, temerário e quase imprudente, dará ao novo profissional a certeza de que pode e deve escolher alguns caminhos, ainda que muito desafiantes, sem se deixar derrubar pelo medo dos perigos e da possibilidade de falhar, porque ele terá descoberto no erro um recurso significativo de aprendizagem. E assim, depois de deixar sua zona de conforto e percorrendo uma longa trajetória, ele estará pronto para contribuir com o crescimento do mundo em que vive. Ou seja, construir e deixar um legado que merece o devido destaque.


Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]