Por Paula C. Strina Juliasz
Uma série de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais são desenvolvidos na escola por meio dos diferentes conhecimentos, tais como matemático, histórico, geográfico, entre outros. Este livro tem sua centralidade na abordagem do conhecimento geográfico na educação infantil, considerando a ampliação do pensamento espacial e o desenvolvimento das atividades cognitivas como memória, atenção, imaginação e pensamento.
Este livro começa com as memórias. Sistematizo memórias de pesquisa, e uma série de reflexões são suscitadas da minha própria formação enquanto professora de Educação Infantil, bem como de geógrafa. Iniciar pela memória possibilita revisitar concepções sobre infância e delinear as camadas que compõem as relações entre as representações espaciais, a ampliação do pensamento espacial e o conhecimento geográfico.
O espaço, então, vai se tornando central na obra, que trata de questões geográficas e provoca a pessoa leitora a compreender que, se o espaço é construído socialmente, ele envolve relações sociais diversas, práticas socioterritoriais, cognição e modos de pensar. Assim, procuramos compreender a diferenciação entre pensamento espacial e conhecimento geográfico e suas aproximações no ambiente escolar.

O livro reconhece que o trabalho com representações espaciais orais, mentais e gráficas envolve a compreensão de diferentes áreas e, neste caso, considera a correlação entre cartografia (signos, códigos e linguagem), psicologia (funções psíquicas superiores e habilidades), geografia (conceitos científicos e situações geográficas) e educação (trabalho educativo). Com isto, o livro apresenta leituras recentes da neuropsicologia histórico-cultural e traz atividades de ensino a partir dos conceitos de vivência e de situação social de desenvolvimento, o que fornece instrumental para desenvolver o diferencial deste livro: a concepção de formação social do pensamento espacial.
Este livro foi concebido com o objetivo de dialogar diretamente com professoras da Educação Infantil, mas também com professoras de Geografia, uma vez que trata do conhecimento geográfico e das representações mentais e gráficas do espaço. Ao longo do texto, as leitoras encontrarão caixas explicativas sobre os conceitos ou sobre a própria base teórica do livro – a psicologia histórico-cultural – e o item “o que diz as autoras?” sobre os assuntos tratados. Há também um quadro que ajuda a guiar a leitura, e, ao final dos capítulos, apresento questões que poderão fomentar diálogos na formação inicial ou na formação continuada de professoras.
Quando finalizei o livro, uma frase que meu pai me disse quando eu ainda era criança me veio à cabeça: “A gente sempre aprende com alguém”. E essa lembrança me fez refletir sobre como os espaços coletivos, a constante conversa com professoras das escolas públicas e as leituras de estudos me provocaram a formular perguntas de pesquisas, me guiaram às respostas e me fizeram reafirmar a necessidade da escola na ampliação da formação do sujeito consciente de suas atividades mentais e do espaço. Neste livro, a criança é vista como um ser social que se comunica por meio das diferentes linguagens expressivas, e a escola, um meio com condições para a atividade criadora e vivências.
Paula C. Strina Juliasz é professora doutora do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), atuando na área de Ensino de Geografia e Cartografia Escolar. Líder do grupo de pesquisa Ser – Linguagens e Pensamento na Educação Geográfica. Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP, mestra e graduada (bacharelado e licenciatura) em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp-Rio Claro). Pela Contexto é coautora do livro Espaço e tempo na educação infantil e autora do livro Representações espaciais na educação infantil.