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O Brasil padece da falta de integridade | Rubens Marchioni

Isso acontece, sobretudo, nos escalões do governo. É de lá que deveria partir as demonstrações práticas de que essa forma de vida é possível e faz bem a todos. Que outra definição seria mais adequada à ideia de fazer política?

Essa ausência é capaz de reduzir muito as possibilidades de encontrarmos o caminho para o bem-estar social. Lamentavelmente, pessoas e a iniciativa privada, além de outras instituições, passam a adotar essa prática como regra. Isso se deve ao fato de não se darem conta de que ela não deveria ser nem mesmo exceção. Até porque é impossível falar em ser mais ou menos íntegro ou mais ou menos ético. O meio termo, aqui, é filosoficamente impossível. Salvador Dalí adverte para o fato de que “Desenhar é a integridade da arte. Não há possibilidade de trapacear. Ou é bom ou é ruim.” Na política também é assim. Ou, então, pecará quanto à estética.

Uma força-tarefa, organizada por todos os segmentos do país, seria o caminho mais seguro para reduzir os efeitos danosos da falta de integridade. É um trabalho a ser feito por meio de ações práticas muito bem estudadas e realizadas a partir de estratégias seguras do ponto de vista prático. É preciso redesenhar esse quadro.

Projetos dessa natureza nascem da tomada de consciência das pessoas a respeito da situação e da sua capacidade de se indignar com este cenário. De outra forma, não há como criar expectativas em torno da ideia de mobilização social feita com traços mais precisos.

Nesse caso, a ação requer objetivos mensuráveis. Isso significa definir, com clareza, o que o governo deve fazer depois de ser alvo dessas manifestações, mais precisamente a começar por quais segmentos e dentro de que período. Porque somente assim será possível monitorar os resultados práticos do seu trabalho, avaliar seu desempenho e retomar exigências quanto aos aspectos ainda pendentes. Não podemos nos contentar com a ideia de rascunhos sem compromisso. 

Do ponto de vista de recursos, essas manifestações demandam o esforço humano de deslocamento para diferentes pontos da cidade. Tudo com a devida organização. Afinal, é essencial evitar o desperdício de material e de energia humana nesse processo de mobilização. Ele deve ser potencializado ao máximo para se aproximar da sua melhor expressão.

No entanto, convém lembrar que um projeto como esse não se organiza de maneira espontânea. Assim, é necessário que haja um ponto de partida e uma coordenação. São ações exigidas desde o início. Somente isso garante que os resultados serão obtidos de maneira calculada e pacífica, sem desvios de rumos. A palavra de ordem é foco, porque um desenho mal-acabado sabe como confundir.

O resultado desse projeto de sociedade deve trazer uma nova organização social e política, marcada pela integridade no seu sentido mais profundo. Como resultado secundário, isso faz com que todos os segmentos se sintam atingidos e motivados a uma ação transformadora. Quando cada um faz a sua parte, o conjunto da obra fica muito melhor.

Lembrando, para finalizar, que tudo isso implica, sempre, a necessidade de ações fortes de comunicação. Elas são os instrumentos que levam as pessoas a acreditar no poder de transformação. Nesse sentido, todos devem ser motivados a sonhar com a utopia, ao menos para se obter algo próximo a essa ideia. Nunca a sociedade precisou tanto da capacidade de sonhar. Conforme sugeriu o publicitário americano Leo Burnett, somos convocados a tentar alcançar as estrelas, certos de que não acabaremos com um punhado de barro nas mãos.


Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]